Além de ampliar as perspectivas e referências da sua pesquisa, a Editora Monstro dos Mares está em ação para fortalecer a atividade de espaços comunitários, sociais, movimentos, coletivos e singularidades. Atuamos com a vontade de aumentar a felicidade e a autorrealização das pessoas que fazem parte de nossa iniciativa editorial, tal como daquelas que se relacionam direta ou indiretamente conosco. Isso tudo pode parecer efêmero, mas talvez sejam os mais importantes benefícios das atividades que realizamos na editora. Números jamais poderiam traduzir a felicidade e a autorrealização que sentimos ao distribuir livros e zines, mas no dia a dia vivenciamos o impacto mais gratificante de toda a nossa atividade de inspiração anárquica e autogestionária.
Aprendemos constantemente umas com as outras, e nossa alegria e entusiasmo estão na satisfação de interagir e colaborar em bando, realizando atividades e projetos cada vez mais envolventes, conscientes e felizes. Entendemos que a Editora Monstro dos Mares tem como missão a contribuição social na valorização das subjetividades e no enfrentamento aberto ao capitalismo, à colonialidade e ao patriarcado em todas as suas expressões.
A atividade de fazer livros e zines é também uma forma importante nos esforços para enfrentar a pobreza e buscar melhorias nas condições de vida de toda gente sofrida. Compreender as condições mais singelas de ser quem se é, incluindo sua etnia, sexualidade, identidade cultural, constituição física, capacidade e orientação tecnopolítica, fortalece e amplia nossas reflexões sobre as relações de poder sobre os corpos, o adoecimento generalizado, a dependência financeira daqueles que trabalham, a cooptação política de nossas comunidades, tal como os elevados níveis de stress nos meios acadêmicos e as precárias formas de expressão dos sentimentos e angústias do nosso tempo. Por tudo isso, ousamos buscar por modos diversos de enfrentamento à centralização do poder e as imposições normativas do Estado, do grande capital, do judiciário, da igreja e da família (abusadores, policiais, patrões, padres, pastores, juízes, e maridos também!).
Ao realizar processos de publicação que disponibilizam ferramentas de autonomia, emergem evidentes chamados às práticas/éticas das vidas em perigo, das existências que expressam sentimentos conectados à realidade social de nosso tempo. Linhas, páginas e capítulos são caminhos pelos quais alcançamos nossos objetivos e desfrutamos das maiores recompensas conhecidas para nossa pequena comunidade editorial: pessoas convivendo umas com as outras de forma dedicada, para uma vida mais criativa e que, ao falarem abertamente de seus problemas em sociedade, buscam soluções compartilhadas.
Nosso coletivo é pequeno, somos uma dúzia de pessoas que contribuem no conselho editorial e científico, duas para fazer todo o resto (imprimir, cortar, colar, grampear…) e, lógico, uma quantidade carinhosa de pessoas da Rede de Apoio e Solidariedade, que muito generosamente nos enchem de carinho e também prestam suporte financeiro mensal para seguirmos existindo.
Buscamos com nossas publicações compreensões sobre nosso tempo, partindo das cosmovisões e experiências pluridiscursivas cotidianas de habitar o lugar, onde se constrói a dimensão da experiência e da pre-sença do Ser no Mundo. Esse lugar que somos, o século 21. Aqui, não se trata de negar ou rechaçar os iluministas, os homens europeus cis brancos e mortos da Europa que estenderam suas teorias até os dias de hoje, mas compreender, articular e abrir espaço para que outras visões de mundo possam emergir, rumo a um mundo em constante transformação e cheio de possibilidades. Não se trata de reescrever o futuro ou o que virá, mas abrir-se para o que está acontecendo aqui, entre nós.
Esse é o desafio presente nos esforços de publicação de textos que conseguimos produzir, resgatar ou localizar: desacomodar o horizonte epistemológico das pessoas dentro e fora da academia a partir de uma perspectiva radical, que enfrenta os discursos daqueles que desejam a nossa morte e/ou mesmo daqueles que pensam que não somos sociais ou, ainda, que acham que dependemos da aceitação de qualquer “autoridade” no horizonte das lutas. Somos a luta, nossos corpos são campos de batalha. Somos monas, minas e manos, lésbicas, não-bináries, pessoas negras, pardas, gordas, maricas, sapatonas, homens e mulheres trans, povos da floresta, pessoas com deficiências. Somos essa gente com doenças crônicas, com problemas de saúde mental. Somos as pessoas que não se reconhecem nas definições limitadas dos rótulos, identidades, partidos e perfis para serem catalogadas no segundo caderno dos jornais. São nossos corpos, nossas vidas, nossas lutas!
Esse é o nosso tempo e ninguém vai nos dizer o que fazer.
Em 2021, tire sua pesquisa insurreição do armário e faça com que ela ocupe todos os espaços da vida, dentro e fora dos muros das universidades.