Em 11 de abril de 2019 Ola Bini, diretor técnico do Centro de Autonomia Digital (CAD), desenvolvedor de software livre, especialista de nível mundial em privacidade e segurança, além de ser um reconhecido defensor dos direitos humanos, foi detido no Aeroporto Mariscal Sucre em Quito quando estava prestes a viajar para o Japão para participar de um treinamento de artes marciais. O gatilho? Declarações feitas pela então Ministra do Interior, María Paula Romo, assegurando que havia hackers no país envolvidos em atividades de desestabilização contra o governo equatoriano; declaração na qual o nome de Ola nunca foi mencionado, no entanto foram feitos todos os esforços para construir um caso de forma precipitada e sem elementos suficientes para o incriminar e prender, ignorando assim o princípio da presunção da inocência.
O que parecia ser uma detenção para fins investigativos, acabou se tornando num processo de perseguição governamental excessiva que hoje, 2 anos após o evento, não parece estar perto de terminar.
Inicialmente acusado de atacar a integridade dos sistemas informáticos sem prova alguma, Ola permaneceu encarcerado por 70 dias. Sua saída da prisão foi garantida através da ação de um Habeas Corpus que determinou a ilegalidade e ilegitimidade da sua detenção, contudo isso não significou o fim da perseguição legal contra ele, porque até hoje, perante uma nova acusação de alegado acesso não consensual a sistemas informáticos, Ola continua à espera de que em uma audiência preparatória do julgamento, decida o seu futuro. A isto se deve acrescentar que a perseguição não se limita apenas à esfera jurídica do caso, senão que Ola e seus amigos são vítimas de vigilância permanente por parte das agências de inteligência do Estado, quem além de o seguir por toda parte, também empreenderam tentativas de vigilância tecnológica contra ele.
Chama profundamente a atenção a forma como os operadores da justiça em diferentes instâncias violam repetidamente o direito de Ola a um tratamento justo, oportuno e direcionado ao devido processo, pois em repetidas ocasiões, mesmo altas personalidades das esferas do poder político equatoriano não hesitaram em intervir no caso, violando a independência do sistema judicial.
O próprio caso de perseguição contra Ola Bini estabelece um perigoso precedente na região e no mundo, uma vez que persegue e criminaliza os conhecimentos técnicos muito típicos do trabalho cotidiano daqueles que, como Ola, procuram fortalecer a segurança e privacidade das pessoas no mundo digital. Vale a pena mencionar a este respeito que, numa das últimas etapas judiciais seguidas no processo, uma das partes acusadoras classificou como claramente criminoso o fato de Ola ter utilizado o Tor nas suas atividades, revelando a clara falta de conhecimentos técnicos sobre a importância desta ferramenta para a proteção dos direitos humanos fundamentais como são a privacidade e o anonimato, aspectos vitais para garantir a liberdade e transparência no desenvolvimento democrático das nações.
É importante destacar as grandes contribuições de Ola em relação ao software livre, a defesa da privacidade e a segurança, ao longo de seus 30 anos de experiência no desenvolvimento de software. Entre alguns dos seus projetos estão: suas contribuições para o projeto JRuby, JesCov, CoyIM, Goseco para Subgraph, Enigmail, projeto Tor, Let’s Encrypt, OTRv4, Libgoldilocks, o projeto DECODE e muitos mais.
Organizações locais e internacionais tem expressado sua preocupação sobre a forma como se esta conduzindo o processo judicial contra Ola Bini através de pronunciamentos individuais e coletivos. Entre elas estão: a Organização das Nações Unidas, a Relatoria Especial pela Liberdade de Expressão da Organização dos Estados Americanos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Electronic Frontier Foundation, a Associação pelo Progresso das Comunicações, Access Now, Amnistia Internacional, Human Rights Watch, Artigo 19, Derechos Digitales, A Associação de Software Livre do Equador, INREDH, Indymedia, Internet Bolívia, Fundação Karisma e muitas mais.
Em vista da falta de garantias oferecidas até o momento pelo sistema judicial equatoriano para que Ola Bini tenha um julgamento justo apegado ao direito, expressamos nossa profunda preocupação e ao mesmo tempo exigimos que cesse a perseguição desmedida contra Ola e todos que como ele, lutamos para construir uma internet melhor.
Basta já de perseguição e criminalização! Defender o direito a privacidade não é um crime! Defender o acesso ao software livre e aberto é um ato de resistência!
Exigimos justiça e reparação!
Por favor adicione a sua organização ou você mesmo a essa declaração de apoio enviando um email a: [email protected]
Um documentário que retoma as ideias de Frantz Fanon do passado e as coloca no caminho de como suas ideias estão ressoando com os jovens de hoje ao redor do planeta.
Quando Frantz Fanon estava nos últimos estágios da leucemia, aos 36 anos, ele foi levado para um hospital em Bethesda, Maryland, nos Estados Unidos, para uma cirurgia. Seu filho de 5 anos, Olivier, andando por lá e vendo a chegada de sangue para transfusão, vendo as bolsas de sangue, temeu que seu pai houvesse sido cortado em pedaços. O pequeno Olivier mais tarde encontrou flamulando uma bandeira da Argélia em uma rua desde a brutal e recorrente guerra Franco-Argelina, na qual ambos seus pais estiveram profundamente engajados. Esse era, até então, seu único entendimento de violência e sangue no mundo.
Eu me recordei desta história de partir o coração, incluída na biografia de Fanon feita por David Macey, durante a triagem do filme de Hassene Mezine, Fanon Hier, Aujourd’hui (Fanon: Ontem, hoje), com a participação de Olivier Fanon, agora adulto, lendo trechos do trabalho do pai. Entrevistas com ele e uma nota particularmente melancólica para o belamente composto sumário da vida de Fanon compõe a porção ‘ontem’ da primeira metade do filme. “Eu estava moldado em uma cena da Guerra da Argélia”. Olivier relata como foi viver marginalmente devido a ameaças constantes à vida de seu pai.
Mezine encerra a história de Fanon – a vida vivida desviantemente por um curto, enérgico e explosivo tempo – entre seu começo como um soldado lutando contra o nazismo aos 18 anos na II Guerra Mundial, até sua “última luta contra o colonialismo”. Aqui, o foco é nos dias em que Fanon esteve na Argélia, começando com seu posto em Blida, onde ele foi apontado como o médico-chefe no hospital psiquiátrico. Pegando a Estrada da recente publicação de Alienação e Liberdade: Frantz Fanon, na qual são recuperados e traduzidos a maioria de seus escritos psiquiátricos, o filme também se atenta ao trabalho psiquiátrico de Fanon no centro de seu pensamento anticolonial. Foi em Blida que ele estava disposto a tentar novas abordagens, métodos progressistas em um lugar e momento em que o colonialismo e o tratamento racista dos pacientes norte-africanos havia se tornado regra.
Fanon foi estagiário do Dr. Francois Tosquelles, que havia levantado a questão paradigmática, “Como você pode tratar pacientes se a instituição em si está doente?” e havia inventado a psiquiatria institucional. Levando estas ideias para mais longe, Fanon reorganizou completamente as atividades e tratamentos no hospital, incluindo arte terapia, música, sessões de contação de história, e até mesmo locais para arremessos e futebol. O filme alterna entre imagens antigas e novas do hospital em Blida, movendo de fotos ameaçadores de correntes, algemas e cintos para imagens de pessoas relaxando no café do hospital com o porta-retrato de Fanon pendurado em destaque na parede, evidência da longa permanência das mudanças estruturais que fez ali.
O filme toma o olhar por meio de Fanon no tempo em que era revolucionário na luta da Argélia até lentes íntimas e pessoais – histórias de amigos com quem se reunia nas refeições e tinha longas e agitadas discussões sobre a guerra; Fanon tocando guitarra e cantando nas festas de fim de ano, Fanon caminhando pelo seu quarto vazio, sem mobílias, no qual ele ditou seu livro todo para sua assistente Marie-Jean Manuellan; Fanon empurrando o pequeno Olivier em seu triciclo. Todos estes fragmentos de memória permitiram que o público acessasse o sociável, agradável e vibrante Fanon vivo – sendo sempre alguém com a comunidade, e que tinha energias ilimitadas e ideias sobre a luta colonial e as injustiças em todo lugar.
A inovação trazida por este documentário é simples: um curto retrato da companheira de Fanon em vida e amor, Josie. Resumido em um amor revolucionário, “Argélia serviu como catalisador para aproximar Fanon e minha mãe”, explica Olivier, “Ele estava lá nos campos de batalha, nas fronteiras”, acrescenta. Sem dúvida, Fanon, Josie e a Argélia eram indissociáveis.
Enquanto Josie Fanon foi deixada de lado pelos livros de história, esta curta homenagem faz o trabalho necessário de incitar e relembrar os especialistas em Fanon a avaliar a extensão em que a revolução é continuamente enquadrada como masculina, com as mulheres apenas tratadas como acessórios temporários para grandes projetos. Josie foi uma figura respeitada e amada que continuou o seu trabalho como jornalista na Argélia e foi uma forte aliada do movimento anti-apartheid na África do Sul, permanecendo essencialmente sem medo e engajada nas políticas até sua morte em 1989.
Após realizar muitas novas interações na biografia de Fanon, a sessão “hoje” mostra-se o ponto crucial do documentário. Ela contém a longa e robusta tese: a ideia de que o trabalho de Fanon tem sido transformador e influente, e que indubitavelmente possui radicalidade após sua vida.
Qual é, com tudo isso, a relevância de Fanon hoje? Diferente de Che Guevara, Fanon não se tornou um ícone de destaque. Não existem camisetas, broches, sacolas nas quais ele aparece, e isso é simplesmente porque as ideias de Fanon não são facilmente consumidas, nem servem para curtos e concisos lemas. Até como movimento de alerta para o direito global que agora cria raízes, que também tem ferocidades beligerantes e ideologia de resistência decolonial.
O documentário demonstra que Fanon tem muito o que oferecer para a juventude de hoje, que é privada de seus direitos pelas políticas econômicas neoliberais, alimentando o racismo pernicioso e profundamente radicalizado justamente devido à ampla disponibilidade online de uma lista de injustiças, desigualdades e corrupção no mundo. “Miséria é o único destino prometido para centenas de milhões de humanos”, a narradora Marie Tsakala estoicamente declara.
A jornada do filme começa na Martinica, local de nascimento de Fanon (onde o documentário exibe a audiência entusiasmada em um auditório massivamente lotado). Mezine estava surpreso em saber que o trabalho de Fanon era pouco conhecido na Martinica. Ademias, tal recepção ansiosa talvez evidenciasse que ali havia um desejo de olhar para além dos erros de estereótipo de Fanon como um “apóstolo da violência”, e a fome real de retomar suas ideias, que talvez possam oferecer respostas para problemas do presente.
Em Portugal, o rapper e ativista Flàvio Almada “LBC Soldjah” falou o quanto havia sido transformado por Pele Negra, Máscaras Brancas. O líder em “Plataforma Gueto”, um movimento social negro que inventa métodos para educação popular e construção comunitária, Almada reclama do racismo institucional e da violência policial contra a população negra arraigados em Portugal. Portanto, as noções fanonianas de que “nós nos revoltamos porque não podemos respirar” ressoam como urgentes. As ideias de Fanon são importantes porque ele ilumina o que não é culpa dos povos marginalizados, e que não são seus destinos, explica Almada, mas o racismo e a violência são ideologicamente organizados, e podem ser decolonizados, erradicados e superados.
Viajando para a França, África do Sul e Nigéria, o documentário pretendeu seguir a relevância de Fanon para a geração mais jovem intensamente consciente do fato de que o imperialismo continua inabalável em um rol de criativas e enganosas mutações. “Nós não somos os ‘condenados da terra’ falados por Fanon,” explica Houria Bouteldja ativista franco-argelino. “Nós somos os sujeitos pós-coloniais da Europa; nós somos o Sul no Norte.”
O próprio Hassane Mezine é muito o produto dessas ideias, e escolheu fazer este documentários por causa de sua “identidade argelina”, com a qual tinha conflitos enquanto crescia na França. Ele explica que é “confrontado com os mitos do republicanismo francês sobre justiça e igualdade, que não são realmente aplicados quando você nasceu fora, em uma colônia histórica francesa.” Para Bouteldja, assim como para Mezine, Fanon esclarece o processo como um colonialismo interno, e seus escritos oferecem estratégias para se decolonizar destas estruturas sufocantes.
Observações excepcionalmente fortes vêm do jovem ativista Ibrahima Diori em Niamey, Nigéria, que disse que as ideias fanonianas se tornaram particularmente relevantes em seu país pois ele tem um papel central na exacerbação do que chamam de “crise migratória”. As leis de divisão colonial entre a África Negra, a África Branca e o Norte da África evitam liberdades internas de movimentação; Como os chefes de Estado das nações norte-africanas se tornaram agentes das agendas europeias, fronteiras foram estendidas e se proliferaram ao longo da África, se tornando “um jogo de isolamento instituído pelas políticas anti-migratórias europeias.” Apesar das estatísticas que provam repetitivamente que a maioria dos migrantes não deseja entrar na Europa, mas pretende viajar livremente pela África, este discurso é promovido na mídia como uma justificação da draconiana e repressiva das políticas de fronteira.
Diori pleiteia a simplificação das relações entre os humanos, e Fanon oferece a ele uma ponte para os ideais de solidariedade e unidade. Salima Ghezali, jornalista e ativista, faz uma reflexão similar em Argel, Argélia, e fala em um discurso racista interno que tem sido combatido pelo grupo ao qual Fanon referiu-se como a corrupta “burguesia nacional” no contexto dos refugiados e migrantes oriundos da África.
Como a jornada de Fanon continua, parece claro que mulheres são a vanguarda dos movimentos de massa contemporâneos contra o racismo, ganância corporativa e colonialismo estrutural. Tal quadro fica ainda mais evidente quando Mexine termina com uma sessão na Palestina com Samah Jabr, que é uma das 22 pessoas exercendo a psiquiatria e a única mulher na profissão na Costa Oeste. Profundamente influenciada pelos escritos de Fanon, Jabr explica que “o trauma descrito nos manuais ocidentais não parece similar ao trauma que temos na Palestina.” Ela compara um grupo oprimido com uma sobrevivente de estupro que se culpa pelo estupro e imagina que ela inicialmente mereceu isso. Um grupo oprimido como os Palestinos tem que superar seu imenso complexo de inferioridade, e atuam inspirados pelo potencial terapêutico das teorias de Fanon, acrescenta Jabr. Em um movimento de poder simbólico, Mezine projeta as palavras de Fanon no rosto radiante de Ahed Tamimi, uma garota adolescente que já foi presa por seu confronto com os soldados israelenses, incitando manifestações e protestos globais.
De fato, Mezine inaugura Fanon na geração do século XXI que, talvez, nunca conheceram o colonialismo propriamente dito, mas tem herdado todas as suas duráveis brutalidades. Almada de Portugal insiste que “ativistas, rappers e acadêmicos devem ler Fanon, mas não o transformar em algo da moda. Fanon é para a libertação.” Em outro lugar, as palavras hipnotizantes de Cornel West para a câmera permanecem conosco: “Muitos do mundo pré-fanoniano persiste. Mas nós vamos conversar com Frantz Fanon porque muitos de nós decidimos que queremos ser fiéis até a morte as verdades ditas por eles, aos seus testemunhos…”
Como o esforço melancólico de Yazid Fentazi´s oud, que nos acompanhou por todo o documentário, agora deixa aos músicos Neyssatou da Tunísia que bravamente imersos por “War” de Bob Marley, há um senso de júbilo. A missão talvez ainda não esteja complete, mas a saga foi iniciada e o trabalho da decolonização libertária está encampada seriamente por todo o planeta.
Por Bhakti Shringarpure em Africa Is a Country. Gentilmente traduzido por Ste.
Forma parte da tradição libertária, talvez de uma maneira central, o interesse pela difusão de suas ideias. Ao largo da existência do que poderia se chamar de movimento anarquista (com todas as aspas que queiram), existiram certos grupos dedicados a impressão de textos próprios ou traduzidos, assim como uma infinidade de revistas e publicações mais ou menos periódicas.
Distantes estão os tempos em que o número de exemplares se contava aos milhares (vale como exemplo o livreto Doze provas da inexistência de Deus, de Sebastian Faure, que teve uma edição de 620.000 exemplares em 1917 ou os 560.000 de Entre Campesinos, de Errico Malatesta, segundo cifras de J. Álvarez Junco), mas é um fato a vinculação do mundo editorial e o anarquismo. Figuras como Anselmo Lorenzo, Fermím Salvochea, Ricardo Mella ou Diego Abad de Santillán dedicaram esforços à edição e tradução de obras. Essa tradição editorial teve nos anos 70 e 80 uma continuidade, incluso por editoras estritamente libertárias, que aproveitaram o nicho de ideias para editar textos, como foi o caso da série Acracia, de Tusquets.
Nos últimos anos, entre outros motivos, por certo despertar de interesse acerca de temas sociais, estendeu-se por toda a Península uma interessante forma de se aproximar da cultura libertária: os encontros do livro anarquista. Salamanca, Barcelona, Madrid, Sevilla, Valência, Bilbao, Cartagena, Zaragoza, Gijón, Logroño, entre outras, são cidades em que esse tipo de evento já se celebra. Esses encontros servem para difundir o ideal anarquista tanto no âmbito oral, com conversas e colóquios, como por escrito, reunindo diferentes projetos dedicados ao mundo do livro e do fanzine.
Em paralelo ao crescimento e consolidação de muitos encontros ou feiras do livro anarquista, como evidente contraponto as feiras comerciais, parece também que se expandem e se consolidam diversos projetos editoriais ligados ao mundo libertário.
A cultura anarquista ocupa um lugar de permanente confrontação com a cultura hegemônica atual, porque frequentemente vive nas margens do sistema. Quando falamos das margens do sistema, queremos falar de como existem formas culturais que transitam com tensão ou que fogem com maior ou menor êxito da voracidade cultural da mercadoria. Dentro deste panorama, como não poderia ser diferente no mundo anarquista, a variedade se amplia.
Para algumas pessoas, a cultura anarquista é aquele que reflete as lutas, os personagens, as ideias, etc, associadas ao anarquismo no passado, presente e futuro. Isso pode se fazer desde diferentes modelos organizativos, entre os quais existam aqueles que defendam que o livro não é, única e exclusivamente, seu conteúdo. Para esta posição, o livro também é o seu modo de circulação. Assim, um livro seria como uma pessoa, que é seu conteúdo, suas palavras e seus atos, sendo esse modo de circulação do qual falamos. As palavras tem um conteúdo informativo, ou seja, as palavras fazem a realidade, ou se preferirmos, influencia nela. Seguindo esse raciocínio, se um livro diz coisas racistas, estaria se convertendo em parte do sistema de dominação (racial) e, por exemplo, se um livro é vendido em uma livraria onde seus trabalhadores/as têm condições laborais miseráveis, esse livro se impregnaria dessas circunstâncias, pois parte de seu preço se converteria em mais-valia (em síntese: em benefício para o explorador).
Essa postura convive com outras, seguindo múltiplos debates no cotidiano a partir de possíveis matizes que surgem no desenvolvimento da atividade cultural, nesse caso, editorial. Esses debates se movem entra a atividade editorial militante (que representariam as ideias explicadas) e as editoriais como cooperativas autogestionárias ou projetos de auto-emprego, entre uma atividade ao mais puro estilo Do It Yourself, ou mais ou menos profissionalizada. Em uma ou outra posição, sempre com firme caráter assembleário e autogestionário, se constituem vários projetos editoriais cujas diferenças também se relacionam com a preferência por tratar de temas variados ou girar ao redor de determinados temas específicos. Exemplo claro disso são os editoriais como o Ochodosquatro, que se dedica a divulgação de textos relacionados aos direitos dos animais, ou o El Salmón, que edita trabalhos que analisam como a tecnologia se insere no sistema de dominação. Não é raro que existam editoriais que sejam ao mesmo tempo livrarias ou livrarias que tenham seu próprio projeto editorial. Em Madrid já é veterana a livraria e editorial La Malatesta (e recém-nascida como La Rosa Negra) e em Barcelona se pode encontrar, nesse sentido, a Aldarull (e com parecido espírito temos também a El Lokal). Em Granada, a livraria Bakakai edita sob nomes diferentes, enquanto que nessa mesma cidade a Biblioteca Social Hermanos Quero, com o seu próprio nome, colabora com frequência com outros projetos para publica r livros sobre antipsiquiatria ou contrapsicologia, urbanismo, etc.
Já que nos metemos na infame tarefa de etiquetar editoras, há de se destacar que algumas tem especial interesse por textos mais clássicos, como a já mencionada La Malatesta, enquanto que outras se concentram principalmente na edição de ensaios mais contemporâneos, como a editora Vírus, ou a Muturreko Burutazioak, ou também, de forma exclusiva em textos atuais que analisam as últimas décadas do século XX até os dias de hoje, como a editora Klinamen. Não obstante, provavelmente sejam mais frequentes as editoras que utilizam em suas edições critérios não cronológicos, visto que se pode encontrar em seus catálogos textos de qualquer época, como os das editoras Deskontrol, Diaclasa, Calumnia, El Grillo Libertario, El Imperdible ou Piedra Papel Libros, entre muitos outros exemplos possíveis. A maioria das mencionadas (Diaclasa, El Imperdible e também Madre Tierra ou Ediciones Marginales) dedicam-se exclusivamente (ou quase) ao gênero literário ensaístico, se bem que existam outras que possuam em seus catálogos obras de outros gêneros literários (como Piedra Papel Libros em poesia e a Volapük em narrativa).
Simplificando de maneira um pouco insultante, podemos dizer que é possível a divisão do mundo editorial convencional entre as grandes empresas editoriais que funcionam como qualquer outra multinacional: é a grande indústria cultural como o Grupo Penguin Random House (Plaza y Janés, Debolsillo, Taurus, etc.) ou o Grupo Planeta (Espasa, Paidós, Ariel, etc.), e aquelas outras, poucas e pequenas quando comparadas com as outras, que se aferram à Cultura, com catálogos muito caprichados como Akal. Também podemos falar de um terceiro grupo de editoras alternativas por seu tamanho, como a Nórdica Libros, Errata Naturae ou a Impedimenta.
As primeiras buscam essencialmente dinheiro, em que pese o que poderia aparentar a complexa política de diversificação entre coleções de consumo massivo e outras de caráter acadêmico ou de altos voos culturais; as outras amam, apreciam a alta cultura porque acreditam, de forma implícita, que um “mundo mais culto” é um mundo melhor.
O mundo anarquista coincide com a desprezível grande indústria editorial em um aspecto. Frente as editoras que mimam seus catálogos com grandes pensadores ou pensadoras, e não sentem a cultura, como frequentemente fazem os artistas, como um fim em si mesmo, os livros anarquistas, de outro lado, são ferramentas para conscientizar, agitar e isso supõe que muitos livros anarquistas não saem de um grupo de pessoas que se dedica com exclusividade às atividades editorais, mas que os fazem como atividade cultural secundária ou pontual. Assim encontramos que a CNT tem uma fundação (Fundação Anselmo Lorenzo), dedicada a publicar livros sobre seus militantes e sua história, marginalizados pelos cronistas acadêmicos, ou que o já veterano Espaço Anarquista Magdalena no madrilenho bairro de Lavapiés publicou pontualmente ou colaborou com a edição de diversos textos.
Por outra parte, o mundo editorial anarquista, ao entender o livro como uma ferramenta a serviço da transformação social libertária, aposta tradicionalmente por valorizar a mensagem por cima da forma. Por isso, não é raro que o formato seja extremamente simples, inclusive, às vezes, muito mais simplório ante os estandartes comerciais. Para quem está acostumado ao mundo editorial convencional, pode ter uma impressão negativa, mas a realidade é que o processo, que nesses tempos relacionamos com o DIY, significa uma desconstrução da hierarquia do processo cultural editorial, ao abrir esse mundo para quase qualquer pessoa, ou grupo de pessoas que pretendam colocar no papel o que seja. Dessa maneira, existe uma débil barreira entre aqueles que difundem e editam textos anarquistas e seus leitores/as, de forma que passar de um lado para outro é tremendamente habitual, o que confere um caráter popular e horizontal ao mundo cultural libertário como é impossível de se imaginar na indústria cultural capitalista.
Isso se observa principalmente no mundo do fanzine, que usualmente aparece nas ruas ou em espaços diversos através de distribuidoras (que é o nome que lhe dá o movimento anarquista ao projeto de uma ou várias pessoas que publicam e vendem, ou só vendem, ou trocam, textos libertários por sua conta e risco, ou como parte de um projeto mais amplo como pode ser, por exemplo, um centro social), que se contam em dezenas, quiçá centenas, construindo provavelmente a parte quantitativa mais importante do mundo editorial anarquista.
É evidente que o campo editorial libertário serviu de inspiração para pessoas que não se identificam com o corpus geral de suas ideias ou práticas, mas que valorizam e integram muitos outros aspectos do mundo libertário: sua vocação anticapitalista, sua mensagem de ruptura, sua organização autogestionária, a pretensão de fazer coerentes os meios para alcançar um objetivo como próprio objetivo, etc. isso faz com que existam editoriais cujos vínculos com o movimento anarquista sejam difíceis de elucidar. Para além disso, um mundo descentralizado e focado em um aqui e agora de projetos que vem e vão em sua pretensão de mudar o mundo, resulta inalcançável para nossas possibilidades, razão pela qual muitos nomes, seguramente muito interessantes, meritórios e comprometidos caíram no caminho.
Por outro lado, valha este escrito para uma aproximação com o intenso trabalho de difusão cultural como forma de crítica social que mantém os anarquistas, frequentemente contra o vento e as mares.
Por outra parte, os esquecimentos tem fácil solução: esta página* tem a opção de acrescentar comentários para que recordemos esses projetos. Uma maneira de dar a conhecer aquelas editoras que acabamos por esquecer ou que não podemos incluir por limitação de espaço.
La Neurosis o Las Barricadas Ed.
* Se refere a página do ‘Solidaridad Obrera’, publicação que dá foz a CNT-AIT Catalunya-Balears, onde este texto foi publicado originalmente em 22 de março de 2017.
Nos livros de Iván Darío Álvarez pode-se compreender as bases do anarquismo, encontrar edições que quase desapareceram devido à sua estigmatização, e descobrir a faceta libertária do pensador Noam Chomsky. Estes são os textos fundamentais para um seguidor dessa corrente.
A ideia de um mundo sem governo, no qual todos os indivíduos possam considerarem-se livres de qualquer jugo, é, para muitos, utópica, ilusória, ou simplesmente uma piada. Para os/as anarquistas ou libertário(a)s, pelo contrário, acabar com o Estado, o capitalismo, e qualquer regulamentação opressora tem sido sua maior motivação há séculos.
O problema é que o termo anarquia — que por sua etimologia grega significa “ausência de governo” — está, muitas das vezes, associado à violência ou a tumultos. No México, por exemplo, vários jornais fazem uso do termo unicamente para referirem-se a atos violentos que são cometidos por algumas pessoas que guiam suas vidas segundo tais ideais. No Chile, o jornalista italiano Lorenzo Spairani foi deportado, em 2017, por gravar vídeos de uma marcha sindical, tendo sido acusado de fazer parte da cena anarcoliberal. Isso põe em dúvida a plena democracia do Chile, disse Spairani ao jornal costarriquenho El País.
Na Colômbia, há personalidades que, longe de promover a violência, assumiram o anarquismo a partir das letras e das artes cênicas. Uma dessas pessoas é Iván Darío Álvarez, escritor, bonequeiro, pensador, e também fundador, há 44 anos em Bogotá, do teatro La Libélula Dorada, no qual injeta o “veneno” libertário através de obras de sua autoria como El Dulce Encanto de la isla Acracia. Ele também colaborou no suplemento Magazín Dominical do jornal El Espectador com vários artigos dedicados ao anarquismo, e em 1992 fundou o jornal Biófilos, assim batizado em homenagem ao ativista e anarquista colombiano Biófilo Panclasta, do qual produziu quatro edições. Sua biblioteca, que ocupa quase três cômodos de sua casa, é uma vasta coleção de filosofia, contos infantis, peças teatrais, cancioneiros, poemas, e há um local especial para estes oito livros, recomendados por Iván Darío, que são fundamentais para qualquer interessado(a) em conhecer as bases e os ideais anarquistas.
Diccionario anarquista de emergencia – Iván Darío Álvarez e Juan Manuel Roca
Parecerá um pouco narcisista começar com este livro que escrevi junto com o poeta Juan Manuel Roca, mas este texto é como uma introdução ao anarquismo. Este livro está dividido em duas partes: na primeira, tomamos os termos de A a Z próximos à anarquia e os definimos do ponto de vista libertário, através de citações de filósofos, anarquistas, ou pessoas com ideais semelhantes ao anarquismo; na segunda parte, incluímos umas mini-biografias de personalidades que muita gente ignora que estavam próximas dessa corrente, tal como Albert Camus, Arthur Rimbaud, Oscar Wilde e Leon Tolstói.
Esta é uma joia porque, devido à sua estigmatização, encontrar edições desta obra é como procurar uma agulha no palheiro. Neste livro, Read reúne seis ensaios, nos quais há desde poesia até filosofia, e os relaciona ao anarquismo. Isto também é uma raridade em seu trabalho, porque esse inglês é mais conhecido por suas publicações sobre estética. A editora argentina que publicou esta obra, Américalee, é muito importante, pois se encarregou de resgatar clássicos do anarquismo de meados do século XX.
Chomsky também é muito conhecido por seus trabalhos linguísticos e críticos, mas pouco por sua faceta libertária. Neste livro, onde também há entrevistas, ele faz um estudo sobre a prática das ideias anarquistas na Guerra Civil Espanhola, que levaram a impedir que os franquistas tomassem Barcelona. Os libertários também assumiram o controle das fábricas, eliminaram o dinheiro, e colocaram os campos nas mãos dos camponeses, sob autogestão. O autor vê nisto um modelo inspirador para uma nova sociedade, onde seja possível haver uma democracia construída de baixo para cima, e não ao contrário.
Durante a Guerra Civil e a gestação do movimento operário espanhol, surgiram grandes figuras, entre elas o metalúrgico Buenaventura Durruti. Ele teve uma vida extraordinária: esteve preso, em seguida fugiu da Espanha e andou pelo México, Cuba e Argentina roubando, não para ficar rico, mas para financiar suas lutas sociais e a fundação de escolas anarquistas. Ele também criou a Coluna de Ferro, que eram as milícias anarquistas que enfrentavam Franco. Enzensberger tece muito bem esse relato, e o conta como um romance, com testemunhos de simpatizantes, inimigos, e por meio de fragmentos de livros e entrevistas.
Cabezas de tormenta: ensayos sobre lo ingobernable – Christian Ferrer
Nos quatro ensaios que compõem este livro, Ferrer pesquisa o estilo de vida dos libertários, seu idealismo e fé nas ideias, e os põe como um modelo do quê o anarquista ideal pode ser. Também se encarrega de desmistificar o imaginário que a burguesia impôs à sociedade a respeito do que é um seguidor da anarquia: alguém estigmatizado, satanizado por sua rebeldia, um ser perigoso e incendiário que sempre anda com uma bomba oculta. O autor dá a essa obra um estilo pessoal que o torna muito poético e agradável de ler.
Este trabalho é muito polêmico porque Zerzan é contrário ao progresso da civilização que, para ele, está nos levando a um beco sem saída. Ele argumenta que, com o surgimento da agricultura, começou a divisão do trabalho e um ideal de ambição e de conquista que serviram de base para o escravismo. O autor propõe voltar a uma sociedade primitiva, onde haja uma relação mais estreita entre os seres humanos e a natureza, e onde as cidades não existam; para ele, elas são monstros em crescimento que degradaram o ser humano até o ponto de convertê-lo em alguém anti-social.
O ativismo e sua participação em redes contra o Banco Mundial, o G8 e todos esses movimentos capitalistas e de globalização, levaram a esse graduado em Oxford a fazer este livro, que é sua tese de graduação. O particular é que ele não o fez sentado à uma mesa, mas sim embasado nas suas experiências em protestos. Gordon explica que, ainda que o anarquismo tenha sido ofuscado por movimentos como o marxismo, nunca desapareceu; depois do Maio de 68, houve uma nova irrupção e atualmente existem anarquistas que não se autodenominam assim, devido à estigmatização da palavra, e sim como autonomistas, assembleístas, etc.
Cine y anarquismo: la utopía anarquista en imágenes – Richard Porton
O cinema sempre esteve presente nas lutas sociais, e mostrou o anarquista de diferentes maneiras. Porton explica isso da perspectiva daqueles que seguem esses ideais, assim como daqueles que não seguem. Aqui falamos sobre, por exemplo, Sacco e Vanzetti (1971), filme que conta o caso de dois imigrantes italianos que chegaram nos Estados Unidos em busca de um futuro melhor e que, ao ver as formas brutais de exploração daquele país, ingressam no movimento operário norte-americano para lutar a partir do anarquismo. Logo são acusados de um crime que não cometeram e são condenados à cadeira elétrica.
Hoje, dia 15/06, Jonas Josè de Albuquerque Barros, estudante e dirigente do Grêmio estudantil do Ginásio Pernambucano, assassinado no dia 1º de abril de 1964 pelo exército brasileiro, completaria 74 anos. A preservação da sua memória é fundamental para a organização e luta dos e das estudantes neste momento, em que o autoritarismo militarista nos ameaça com palavras e ações que seguem a experiência do fascismo histórico.
Por isso, o Grupo de Ação e Pesquisa das Ocupações Escolares (GAPOE) decidiu realizar nesta data importante o lançamento deste registro histórico inédito, produzido por estudantes e apoiadora(e)s que participaram da ocupação do Ginásio Pernambucano Aurora, ocorrida em 2016, no contexto da luta contra a aprovação da PEC do Teto dos Gastos e do sucateamento geral da educação pública.
O material trata dos acontecimentos de 2016, que levaram a uma onda de ocupações escolares e universitárias em várias cidades do país. São revelados detalhes da preparação da ocupação, bem como os princípios e práticas políticas presentes durante sua breve, mas importante existência. O zine destaca a luta das mulheres contra a opressão de gênero dentro da ocupação, na conquista da igualdade e rotatividade das tarefas. Por fim, é feita uma breve análise da situação política, que apesar de desatualizada em relação a atual pandemia, se mantêm importante em muitos aspectos. O zine termina com um chamado à organização estudantil e popular, baseada nos princípios e práticas vivenciadas na ocupação.
As chaves de uma biblioteca podem abrir novas ideias! O projeto da Biblioteca Anarquista Lusófona está no ar e precisa de sua participação e divulgação. A Biblioteca Anarquista Lusófona é um repositório de textos anarquistas e de interesse para anarquistas. Baseia-se no The Anarchist Library e tem a mesma estrutura do site em inglês.
No que se refere ao uso do termo “anarquismo” na biblioteca, aceita-se que esse é um termo bastante amplo. Mas amplo não significa infinito, e, basicamente, se reduz a um conjunto de ideias contra o Estado e o Capital. Todas as ideias anárquicas e anarquistas que estejam identificadas com essa definição são bem-vindas. Isso exclui imediatamente o chamado “anarco-capitalismo”, o “anarco-nacionalismo” e porcarias similares.
A Biblioteca Anarquista Lusófona foi traduzida e é mantida por um conjunto de pessoas de variados espectros e entendimentos do anarquismo. Toda pluralidade e diálogo comum entre nós é frutífero. Por isso, a biblioteca não é de uma pessoa, nem pertence ao grupo x ou y. Tampouco é vinculada a uma determinada corrente / organização. Qualquer pessoa pode inserir novos textos e fazer download de arquivos para leitura e impressão.
Inserir textos na biblioteca
Para contribuir inserindo textos no repositório da biblioteca, basta você saber a origem do texto, ou seja, de onde ele foi extraído: a fonte. A familiaridade com editores de textos também é bem-vinda. Se você souber um pouquinho de HTML ou Markdown, vai ajudar bastante.
Tempo necessário: 30 minutos
Selecione um texto
Com certeza você tem uma pastinha com muitos arquivos de textos anárquicos e anarquistas. Verifique a fonte do texto e pense como ele pode ser importante para outras pessoas;
Agora é a hora de adicionar um novo texto. Você pode utilizar o sinal de + na parte superior da página ou o link no rodapé. Lembre-se que é necessário estar registrado no site para prosseguir;
Cadastrar as informações básicas
Agora é a hora de cadastrar o título do texto, autor, data original de publicação, fonte (origem) do texto, palavras chave, outras informações e colar o texto. Avançar!
Revisar o texto
Lembre-se de revisar o texto. Utilizar um navegador moderno com um pacote de idiomas e corretor de texto atualizado é uma ótima pedida. Evite utilizar formatações importadas do Word. Para colar sem as formações você pode utilizar o comando (control + shift + v, ou command + shift + v, se utilizar sistema operacional Apple). Se possível, remova todas as marcações <br> ou </br>.
Revise as notas de rodapé
Para utilizar notas de rodapé, basta inserir em qualquer parte do texto o número da nota dentro de colchetes, por exemplo:
Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Pellentesque consectetur, sem eget ultrices fermentum, turpis augue venenatis diam, in rhoncus lacus risus non sem[1].
No final do texto, em uma nova linha, adicione a sentença “número da nota de rodapé entre colchetes espaço texto da nota”. Veja o exemplo:
[1] Texto da nota de rodapé, 2020.
Visualizar as modificações
Enquanto você revisa o texto, é possível visualizar como ele está ficando. Esse processo ajuda muito para verificar se as modificações realizadas deram certo;
Enviar
Tudo certo? Agora, basta enviar! Voluntários e voluntárias da Biblioteca Anarquista Lusófona farão a revisão e publicação do material. Tenha um pouco de paciência, pois cedo ou tarde você vai receber recomendações de modificações/revisões ou informações sobre a publicação do texto.
Obrigada!
Só é possível manter o repositório on-line se as pessoas utilizarem a biblioteca. Use e divulgue.
Recursos avançados
Com a Biblioteca Anarquista Lusófona é possível:
Contribuir com revisões em textos;
Fazer o donwload do texto em diversos formatos de leitura (html, pdf, ePub, LaTex);
Baixar o arquivo pdf para leitura ou pronto para impressão de caderno (booklet);
Adicionar o texto em sua seleção pessoal e criar um livro com os textos selecionados (bookbuilder);
Selecionar somente um trecho do texto para formar uma coleção de citações;
Suporte da biblioteca
Algumas pessoas estão on-line em um pequeno grupo no Telegram (https://t.me/bibliotecaanarquistalusofona) neste exato momento para ajudar quem tem dúvidas sobre como utilizar a biblioteca. Se precisar de auxílio a qualquer momento, não hesite em participar do grupo. E, se puder, auxilie outras pessoas também.
NINGUÉM QUE NÃO DESEJE A TUA LIBERTAÇÃO TOTAL PODE SER CONSIDERADO TEU ALIADO
Se
não se estender a crítica do fascismo à democracia, capitalismo, às
prisões, às pátrias, ao patriarcado, à propriedade, ao especismo e a
qualquer regime que envolva sermos governadxs: estamos a nos condenar a
um emaranhado histórico único que só acabará para dar lugar a um planeta
inabitável. Os social-democratas eleitoralistas estão confortáveis
demais ao condenar as atrocidades da direita e ao esconder as suas
próprias, querem é estar nas ruas e no governo ao mesmo tempo.
Os
regimes autoritários ganham terreno, rápida e eficientemente, porque os
objetivos que perseguem são medíocres: não há nenhuma complexidade em
submeter os outros através das armas, impostos, mentiras e propaganda –
90% dos projetos políticos estão comprometidos é com isso (toda a
infraestrutura necessária já está construída e a funcionar).
Na realidade, ninguém que te trate como massa doutrinável, ninguém que entenda a luta como um passatempo a fazer de vítima e alheio à tua capacidade criativa e ofensiva, ninguém que não deseje a tua libertação total pode ser considerado teu aliado.
Informação é poder. Mas, como todo o poder, há aqueles que querem mantê-lo para si mesmos. A herança inteira do mundo científico e cultural, publicada ao longo dos séculos em livros e revistas, é cada vez mais digitalizada e trancada por um punhado de corporações privadas. Quer ler os jornais apresentando os resultados mais famosos das ciências? Você vai precisar enviar enormes quantias para editoras como a Reed Elsevier.
Há aqueles que lutam para mudar essa situação. O Movimento Livre Acesso (Open Access) tem lutado bravamente para garantir que os cientistas não assinem seus direitos autorais por aí, mas, em vez disso, assegura que seu trabalho é publicado na internet, sob termos que permitem o acesso a qualquer um. Mas, mesmo nos melhores cenários, o trabalho deles só será aplicado a coisas publicadas no futuro. Tudo até agora terá sido perdido.
Esse é um preço muito alto a pagar. Obrigar pesquisadores a pagar para ler o trabalho dos
seus colegas? Digitalizar bibliotecas inteiras mas apenas permitindo que o pessoal da Google
possa lê-las? Fornecer artigos científicos para aqueles em universidades de elite do Primeiro
Mundo, mas não para as crianças no Sul Global? Isso é escandaloso e inaceitável.
“Eu concordo”, muitos dizem, “mas o que podemos fazer? As empresas que detêm direitos autorais fazem uma enorme quantidade de dinheiro com a cobrança pelo acesso, e é perfeitamente legal – não há nada que possamos fazer para detê-los.” Mas há algo que podemos, algo que já está sendo feito: podemos contra-atacar.
Aqueles com acesso a esses recursos – estudantes, bibliotecários, cientistas – a vocês foi dado um privilégio. Vocês começam a se alimentar nesse banquete de conhecimento, enquanto o resto do mundo está bloqueado. Mas vocês não precisam – na verdade, moralmente, não podem – manter este privilégio para vocês mesmos. Vocês têm o dever de compartilhar isso com o mundo. E vocês têm que negociar senhas com colegas, preencher pedidos de download para amigos.
Enquanto isso, aqueles que foram bloqueados não estão em pé de braços
cruzados. Vocês vêm se esgueirando através de buracos e escalado
cercas, libertando as informações trancadas pelos editores e compartilhando-as com seus amigos.
Mas toda essa ação se passa no escuro, num escondido subsolo. É chamada de roubo ou pirataria, como se compartilhar uma riqueza de conhecimentos fosse o equivalente moral a saquear um navio e assassinar sua tripulação. Mas compartilhar não é imoral – é um imperativo moral. Apenas aqueles cegos pela ganância iriam se negar a deixar um amigo fazer uma cópia.
Grandes corporações, é claro, estão cegas pela ganância. As leis sob as quais elas operam
exigem isso – seus acionistas iriam se revoltar por qualquer coisinha. E os políticos que eles
têm comprado por trás aprovam leis dando-lhes o poder exclusivo de decidir quem pode fazer
cópias.
Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a esse roubo privado da cultura pública.
Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada, fazer nossas cópias e
compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar material que está protegido por direitos autorais
e adicioná-lo ao arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web.
Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos.
Precisamos lutar pela Guerilha Open Access.
Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte mensagem de oposição à
privatização do conhecimento – vamos transformar essa privatização em algo do passado.
Você vai se juntar a nós?
Aaron Swartz Julho de 2008, Eremo. Itália.
Traduzido por Mídia Pirata em 16/02/2014, disponível na Internet Archive. Revisado por abobrinha em 04/01/2020.
O grande sonho de Durruti e Ascaso era fundar editoras anarquistas em todas as grandes cidades do mundo. A maior empresa deste gênero teria sua sede em Paris, o centro do mundo intelectual, se possível na Place de l’Ópera ou na Place de la Concorde. Lá deveriam ser editadas as obras mais importantes do pensamento moderno. Para esse fim foi fundada a Editora Internacional Anarquista, que publicava inúmeros livros, panfletos e jornais em todas as línguas. O governo francês, como o espanhol e todos os outros regimes reacionários do mundo, perseguia esse trabalho com todos os meios policiais possíveis. Não lhes agradava nada que o grupo de Ascaso e Durruti se tornasse conhecido também no terreno cultural. Prisões e exílios acabaram levando a editora à ruína. A criança dileta desses dois filhos de Dom Quixote teve de ser provisoriamente enterrada. Ascaso e Durruti voltaram a pegar em armas, como o Cavaleiro da Triste Figura tomara da lança “para acabar com a injustiça, salvar os aflitos e introduzir o reino da justiça na terra”.
Cánovas Cervantes, O curto verão da anarquia, Hans Magnus Enzensberger, 1987, Editora Schwarcz, São Paulo.
No ano de 2019 nós decidimos criar vídeos apresentando alguns processos que a Editora Monstro dos Mares
utiliza para fazer livros desde os primeiros passos. O vídeo de hoje é
um rolê mostrando o computador, impressora, guilhotina, grampeador,
capas e armazenamento.
No vídeo com um pouco mais de 5 minutos também é apresentado o equipamento conquistado com o apoio da ferramenta solidária de financiamento recorrente e coletivo,
o Catarse. As pessoas realizam pequenas contribuições mensais a partir
de R$5 e recebem (se quiserem) algumas recompensas por isso.
Agradecemos imensamente o apoio e o carinho das pessoas em nossa atividade. Acreditamos que livros contém em suas páginas todos os espectros de experiências capazes de transformar a humanidade.