No ano de 2019 nós decidimos criar vídeos apresentando alguns processos que a Editora Monstro dos Mares
utiliza para fazer livros desde os primeiros passos. O vídeo de hoje é
um rolê mostrando o computador, impressora, guilhotina, grampeador,
capas e armazenamento.
No vídeo com um pouco mais de 5 minutos também é apresentado o equipamento conquistado com o apoio da ferramenta solidária de financiamento recorrente e coletivo,
o Catarse. As pessoas realizam pequenas contribuições mensais a partir
de R$5 e recebem (se quiserem) algumas recompensas por isso.
Agradecemos imensamente o apoio e o carinho das pessoas em nossa atividade. Acreditamos que livros contém em suas páginas todos os espectros de experiências capazes de transformar a humanidade.
Foi com surpresa que chegou a mensagem para combinar a entrevista. Então vieram as primeiras perguntas e decidi responder do meu jeito, com minhas palavras e da maneira que tenho tentado pensar nosso bonde editorial. Antes de enviar as respostas refleti por alguns segundos sobre o que seria cortado do conteúdo antes da publicação final pois já estava bem longo. Curiosamente vieram mais perguntas, e outras, outras…
Mais do que uma entrevista ou um bate-papo sobre a Monstro dos Mares, a conversa passou pela própria história da editora e como estamos tocando nosso barco, bem como a visão da cena editorial libertária, algumas questões da crise das grandes redes de varejo e a urgência de epistemologias dissidentes nas universidades.
Acompanhe a entrevista e divirta-se! Agradecemos compas da A.N.A. pela atenção e o carinho com nossa atividade de divulgação acadêmica e anárquica, mesmo que isso não agrade todo mundo.
~ Vertov ~
“Criamos a Monstro dos Mares dentro de uma garagem numa noite fria de inverno”
Trocamos uma ideia com Vertov Rox, que faz parte da Editora Monstro dos Mares. Confira a seguir!
Geralmente quando falamos sobre editoras artesanais, as pessoas
costumam acreditar que criar livros com as mãos seja uma ideia romântica
e distante de ser “modelo de negócio de sucesso”. Bom, primeiro
precisamos definir que modelo é esse. Afinal, já sabemos que a maioria
dessas pessoas, acredita num modelo capitalista, baseado na métrica de
replicação e escala. Quanto mais volume, maior o lucro. Definitivamente
nós rejeitamos esse modelo. Nosso sucesso é criar objetos artesanais
bonitos, que contenham boas histórias, que promovam o pensamento crítico
e que possam ser reconhecidos por apresentarem-se em contraponto à
lógica atual. Sim, ainda que tenhamos que vender os livros (mesmo
aceitando trocas), não significa que concordamos com essa lógica, apenas
estamos evitando fazer parte integral de suas motivações, formas de
pensar e agir.
Com o surgimento de aparelhos como o Kindle, os tablets e o próspero
formato de e-books, que espaço nos resta para o livro “físico” em nossas
vidas? Como podemos tratar adequadamente por livro um objeto que nós
podemos ler, falar, estar em contato com os amigos, etc… Será que aquilo
que conhecemos por livro terá seu espaço modificado, será que isso tudo
vai mudar, ou será que já mudou?
Em 2009 na cidade de Portland (EEUU), o ex-editor literário da
revista Nest, Matthew Stadler e uma jovem escritora chamada Patrícia No
utilizaram uma loja emprestada para fundarem a editora Publication Studio.
Sim, eles estavam fodidos e sem grana, mas encontraram meios super
baratos para confeccionarem livros encadernados manualmente, um de cada
vez. A ideia de utilizar todos os meios possíveis para fazer livros de
artistas e autores locais que admiravam e vendê-los para o público
parecia muito simples, até que o curador Jans Possel pediu à dupla
editar 20 livros para participarem da Bienal de Amsterdam. Stadler e No
chamaram artistas próximas de suas relações e mais 19 livrinhos
brotaram. Depois disso, a editora nunca mais parou.
Construindo uma comunidade em torno dos livros artesanais
Dois anos mais tarde a editora ainda continuava crescendo, outras
seis editoras surgiram nos Estados Unidos naquela época (Berkeley,
Vancouver, Minneapolis, Toronto, Ontário e Los Angeles), cada uma usando
as mesmas formas de baixo custo para fazer livros encadernados novinhos
todos os dias. Em conjunto com essas novas editoras, a Publication
Studio já lançou cerca de 90 títulos e vendeu mais de 10.000 livros
artesanais.
“Nossos livros desafiam as
noções pré-concebidas sobre o que um livro pode ser, basta olhar às
indefiníveis experiências possíveis ao manusear um flipbook de arte como
Blush, de Philip Iosca por exemplo. Nós entendemos que apesar de nossos
métodos misteriosos, o sucesso da Publication Studio encontra-se na
forma com que ela compartilha o sentimento de que não se está apenas
fabricando livros, mas também produzindo um público.” Matthew Stadler
Ao contrário de um mercado, um público é difícil de quantificar. É
impossível traçar um gráfico ou pulular uma planilha. O público é nossa
rede de editoras irmãs, autores, encadernadores autônomos, bibliotecas,
livrarias e leitores, é o resultado de conexões pré-existentes,
amizades, uma modesta presença na web e muito boca a boca. No começo em
2009, as 20 artistas tinham alguma relação com Stadler e No, não
precisou nenhum edital ou chamada pública para começar as publicações.
Por exemplo, quando Stadler enviou um email ao amigo e fotógrafo Ari Marcopoulos
perguntando se havia interesse em publicar um livro, o fotógrafo
respondeu 40 minutos depois com um PDF pronto para impressão de seu
livro, The Round Up. Nem sempre os livros são “fermentados” com esta velocidade. O primeiro livro da artista Vic Haven,
Hit the North, foi criado um ano antes da publicação, durante uma
conversa informal na casa de Stadler. O livro foi lançado em conjunto
com uma mostra de arte numa tiragem limitada de exemplares.