Apoio Mútuo: boas-vindas

Este texto poderia dar boas-vindas a uma geração que nos próximos meses terá a oportunidade de vivenciar um conjunto de experiências chamadas de Apoio Mútuo. Seria ótimo estender os braços e receber as pessoas para esse novo momento. Porém, este não é cenário. Não é uma festa, mas a maior emergência humanitária do século 21. Haverá um mundo antes e depois do Novo Coronavírus.

O Apoio Mútuo já existe no cotidiano e no horizonte de muitas pessoas, grupos e formas de encontro social, bem antes de tentarmos classificar os comportamentos genuinamente humanos como algo de sua própria ontologia. Compartilhar os recursos que temos, dividir com quem atravessa necessidades muito semelhantes às nossas é o que nos constitui seres humanos. Mesmo que nem sempre sejamos uma humanidade tão humana assim.

Nos chamam seres humanos
Um tipo bem estranho de bicho
Herói de circo mexicano
Animais reprodutores de lixo
Nos chamam seres humanos
Mas isso nem sempre somos

Seres estranhos“, Os The Darma Lóvers, 2004.

Quem vai pagar a conta?

Sabemos que a emergência global do novo coronavírus, um verdadeiro apocalipse sanitário e social, está diretamente relacionada à falta de humanidade de “gestores” do mundo. São esses homens de negócios que, de dentro de seus espaços herméticos, tomam decisões sobre as vidas das singularidades desse tão controverso geoide. Para manter as economias funcionando, milhares de vidas se tornarão iguais a qualquer outro número que possa ser calculado por eles. Qual o preço do ar puro? Da água limpa, da comida sem agrotóxicos, do direito à moradia, do acesso à saúde… E quem pode pagar por tudo isso?

Aqueles economistas, nem tão Chicago Boys assim, estão fazendo as contas de quanto pode ser gasto para parecer que estão interessados em salvar vidas. Pois, afinal de contas, já está evidente que o trabalho deles é contar os corpos e calcular quanto cada cadáver custará para a economia. Uma bagatela em torno de 3%.

Entretanto, muitas pessoas seguem dando as costas aos “gestores do mundo, economistas, políticos, investidores da bolsa. São pessoas que seguem colaborando para suprir as necessidades mais básicas de pessoas que sofrem com as opressões de esquemas políticos e econômicos, sejam colegas de trabalho, vizinhança, indígenas, quilombolas, população de rua, LGBTQIA+, população negra e periférica, ou mesmo alguém que nem conhecem, como você e eu.


Apoio Mútuo em todas as direções

Em quase todos os lugares, as pessoas estão se articulando para fazer com as próprias mãos, sem esperar pela atuação de representantes ou intermediários, não apenas nas favelas ou nos grandes centros urbanos. A solidariedade e o apoio mútuo fortalecem os laços entre quem mais precisa e aquelas pessoas que mesmo diante da dificuldade podem se somar. Água, abrigo, alimento, afeto, atenção, cuidado. São inúmeras as possibilidades.

Algumas pessoas que conhecemos decidiram desenvolver um canal, um meio de comunicação, um espaço para compartilhar ferramentas e ampliar as redes de solidariedade, apoiando ações que conectam demandas ao fortalecimento de pessoas, grupos, coletivos e organizações que têm em comum princípios de inspirações anárquicas e anarquistas.

Conheça: apoiomutuo.com.br


Um Maio solidário, obrigado.

Já faz algum tempo a Monstro dos Mares realiza um apanhado das quantidades de livros e zines impressos no mês e a proporção de materiais impressos distribuídos gratuitamente. Mas desde o final de Abril algumas coisas acontecerem e esse post será para falar sobre isso além de apresentar os números do mês.

Com a palavra, nosso editor:

Sabemos que saúde é uma parada importante. Mas, nem sempre ela é prioridade em nossas vidas por diversos motivos. Geralmente é o rolo compressor do capital que esmaga nossos dias: seja para ter que trabalhar mais, manter horários, arrumar um bico extra para complementar a grana, pegar mais aulas, correr atrás de algo que você acha que precisa ou simplesmente não fazer nada por falta de grana. Esse foi o caso para colocar os cuidados com a minha visão de lado. Utilizo óculos desde os 14 anos e no mẽs de Novembro perdi meus óculos. Eu já sabia que havia um histórico de propensão ao glaucoma na família, eu já sabia que devia fazer exames, mas eu também sabia que eram caros e que eu não teria grana pra isso.

Estive no SUS em Dezembro, consultei com o Clínico Geral onde solicitei encaminhamento ao atendimento especializado, o que nunca se concretizou por diversos motivos. Ignorei essa urgência e segui tocando o barco, fazendo livros, mudando de cidade, pensando nos próximos títulos, etc. Sem perceber comecei a ampliar os textos para ler no computador e uma forte dor nos olhos e na cabeça começaram a acompanhar minhas manhãs. Eram sinais de alerta que eu continuei ignorando.

Quando o zoom no computador estava em 300%, as dores nos olhos, uma mancha embaçada na visão e um humor terrível haviam me dominado recebi ajuda e aconselhamento da companheira e de um amigo editor. Estava insustentável. Meu amigo emprestou a grana para consultar e saí de lá em pleno desespero. R$1.400,00 em exames, mais R$1.300,00 nos óculos. Eu não tinha essa grana e não sabia o que fazer. Falei com algumas pessoas que poderiam me ajudar e uma delas propôs de fazer uma vaquinha na internet. Eu não queria aquilo, seja por orgulho, seja por medo de que daria tudo errado, não queria me expôr. Mas não havia outra alternativa e também havia alguma urgência. Para minha surpresa, muitas pessoas se somaram e fizemos uma Vakinha Linda!

Agora estou finalizando a bateria de exames e terei uma nova consulta em breve. O que eu sei até o momento é que tenho uma escavação profunda no nervo ótico do lado direito e catarata nos dois olhos. Mas quero agradecer cada pessoa que enviou mensagem pra mim, compartilhou os links, mandou aquele axé/oração e quem abriu a gaita e fortaleceu a solidariedade. Super obrigado mesmo, nem sei como agradecer. Sei sim, vou seguir fazendo o que eu escolhi fazer da vida e imprimir mais material grátis!

Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, cuidar da lojinha na internet, publicar nas redes sociais e produzir livros se tornou quase impossível. Por isso no mês de Maio contei bastante com o material em estoque e fiz pouquíssimas impressões. Mas dar um tempo também é legal, principalmente se for para cuidar um pouco mais saúde. Portanto cuidem-se, contem com as demais pessoas, peça ajuda!

Saúde, livros e anarquia!

Números do mês de Maio:

  • Impressões totais desde Agosto de 2017: 198.178
  • Impressões de Maio de 2019: 2.050
  • Livros impressos: 17
  • Livros doados: 8
  • Zines impressos: 48
  • Zines doados: 26
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