Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos
O apoio mútuo persiste e é o que nos permite continuar existindo de forma criativa. Essa reciprocidade possibilitou que a edição deste livro se concretizasse, mesmo em momento tão conturbado. Próximo ao centenário da morte de um dos grandes pensadores desse tema, trago à tona um trecho de sua obra intitulada “A Inevitável Anarquia”,
“A imprensa não tem outro tema: suas colunas estão repletas de relatórios sobre os debates parlamentares, contados em seus mais ínfimos detalhes, bem como os fatos e os gestos dos personagens políticos, de tal sorte que, lendo os jornais, nós também, esquecemos demasiado amiúde que há milhões de homens — toda a humanidade — que vivem e morrem na alegria ou no sofrimento, produzem e consomem, pensam e criam fora dessas poucas personalidades cuja importância foi exagerada a tal ponto que ela cobre o mundo com sua sombra.”
ANARQUIA (Piotr Kropotkin, Ed. Imaginário, no prelo)
Por tudo isso, agradeço profundamente aos que compreendem essas palavras: foi e sempre será nós por nós!
Fico muito agradecido a todos os apoios que tornaram a produção do livro possível! Acredito ser este um momento importante para compartilhar o contexto original deste projeto, que surgiu em meio a uma necessidade pessoal de questionar o imaginário ocidental, esse mundo tragado pelo abismo, a partir da leitura da maneira como os personagens indígenas vêm sendo retratados no cinema brasileiro. Devo dizer que a trajetória de realização desse escrito foi dura e cheia de derrotas, boicotada e ridicularizada por muitos que achavam que ela não teria espaço na academia e no mundo universitário. Essas pessoas tinham e continuam tendo a sua razão ocidentalizada, baseada em seus preconceitos humanistas. Mas continuamos caminhando.
Nessa caminhada, cada vez mais encontramos aliados e fazemos pontes, não sem rupturas e conflitos. Tais conflitos são inerentes ao tema, e se alinham às posições contrárias a sua existência, que julgam-no como algo atrasado, não-civilizado, pouco passível de análise. Insistente e radicalmente “selvagens” seguimos, antes de nos percebermos e nos tornarmos “civilizados”. Emanando energias axés, muitas se somaram e somarão nessa caminhada. Por elas e muitos outros que virão, agradeço!
Quero fazer uma homenagem especial ao amigo Sergio Luiz Mesquita, professor de História da rede estadual e morador de Duque de Caxias. Profundo conhecedor e praticante da máxima libertária do Apoio Mútuo, o amigo me apoiou e abrigou em sua casa no Rio. A partir dessa proximidade, cada vez mais se interessou pelo o tema da terrível e trágica história de contato e extermínio que os parentes sofreram aqui. Desenvolveu, então, seu estudo Doutoral sobre a imigração e as visões que se tinham do imigrante ideal para o país, relacionando-as ao suposto atraso que pensavam ser o índio para o Brasil. Juntou-se à batalha e realizou estudos inéditos e pertinentes sobre a temática, revendo a construção e política de embranquecimento da nação na construção da história a contrapelo, ainda que sua valiosa contribuição tenha sido tragicamente interrompida ao ter sua vida ceifada na semana passada pela Covid-19.
Reafirmando a Resistência, criando e indo adiante, como dizia o zapatista Subcomandante Marcos, a terceira guerra mundial será semiótica. Esta obra recoloca a imagem dos povos ameríndios no Bra$il na batalha das Barricadas do desejo! Por mais que os queiram enterrar, viraram sementes, assim sobrevivendo em um imaginário pós-pandêmico. Retomando um outro gigante, que deve ser sempre citado, o Txai Ailton Krenak em uma entrevista já clássica diz que “os povos indígenas já sobrevivem há mais de quinhentos anos, quero ver é como sobreviverão os brancos…”
Viva e deixe viver, vida longa aos povos da Floresta! Temos muito a aprender com o seu bem viver…
Juliano Gonçalves da Silva
Autor do livro O índio no cinema brasileiro e o espelho recente
Agradecimentos
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“A imprensa não tem outro tema: suas colunas estão repletas de relatórios sobre os debates parlamentares, contados em seus mais ínfimos detalhes, bem como os fatos e os gestos dos personagens políticos, de tal sorte que, lendo os jornais, nós também, esquecemos demasiado amiúde que há milhões de homens — toda a humanidade — que vivem e morrem na alegria ou no sofrimento, produzem e consomem, pensam e criam fora dessas poucas personalidades cuja importância foi exagerada a tal ponto que ela cobre o mundo com sua sombra.”
Não consigo não pensar na Veja lendo essa citação.