Relato enviado por Juliano Gonçalves da Silva, autor de “O índio no cinema brasileiro e o espelho recente“.
Entre os dias 4 e 6, a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, reconhecida por sua excelência, acolheu mais de uma centena de pesquisadores de todo o Brasil, além de representantes da Argentina, Uruguai e Chile. O evento foi um espaço privilegiado para a apresentação de resultados de pesquisas que abordaram a relação entre cinema e história.
Os filmes apresentados retrataram perpetradores e genocidas, do passado e do presente, expondo tensões, violências e as complexidades da memória histórica. As discussões exigiram dos participantes coragem e “neutralidade científica” para enfrentar temas tão delicados, ao mesmo tempo em que destacaram a relevância dessas análises para entender as ditaduras que ainda deixam marcas e ameaçam o presente no Brasil e no mundo.
Diversidade Cinematográfica e Epistemológica
As reflexões trouxeram caminhos de liberdade e resistência a partir de releituras de figuras pioneiras do cinema brasileiro, como Lélia Gonzalez, que inseriu questões raciais na tela e na historiografia. Também foram abordados diferentes movimentos cinematográficos, novos e antigos, como o cinema marginal, udigrudi, militante, contracultural, negro, queer e o florescente cinema ameríndio em um Brasil ainda marcado pela colonialidade.
O evento enfatizou as novas metodologias para a constituição de fontes imagéticas e arquivos fílmicos, reconfigurando possibilidades de pesquisa e aproximando o cinema de diversas abordagens epistemológicas e artísticas. Envolvimentos, percepções e afetos emergiram nas análises de produções de todo o mundo, que exploraram desde diretores consagrados, como Spielberg, até narrativas menos conhecidas, como o cinema latino-americano inspirado nos xamãs.
Mesas e Lançamentos
Os debates iluminaram temas como as ditaduras e o “teatro da política”, as identidades na tela (com destaque para o cinema negro), os perpetradores e os espaços de violência no audiovisual, além de questões sobre preservação e arquivos audiovisuais.
Durante o evento, também ocorreu o lançamento de diversas obras importantes, que contribuíram para a divulgação de novos estudos e reflexões. Entre os destaques:
- CONCEIÇÃO, Alexandra Castro. A Caméra-stylo de Vicente F. Cecim. São Paulo: UICLAP, 2024.
- DEL VALLE-DÁVILA, Ignacio; BOSSAY, Claudia. Miradas descentralizadas: Las notícias de UCV-TV (1968-1977). Santiago de Chile: Cineteca Nacional de Chile, Fundación Centro Cultural Palacio de la Moneda, 2024.
- FERREIRA, Ceiça; REIS, Lidiana (org.). Águas correntes: mulheres no audiovisual do Centro-Oeste. Goiânia: Editora UEG, 2024.
- FREIRE, Marcius; SCANSANI, Andréa C. Por um cinema de cordel: um livro de Sergio Muniz. São Paulo: Editora Alameda, 2024.
- GARCIA, Alexandre Rafael; OPOLSKI, Débora (orgs.). Cinema, criação e reflexão: 10 anos de Cinecriare. Araraquara: Letraria, 2024.
- GRUNER, Clóvis; KAMINSKI, Rosane (org.). História e Imagem: representações de traumas. Jundiaí, SP: Paco Editorial, 2024.
- GUSMÃO, Milene Silveira et al.. Memórias e Histórias do Cinema na Bahia. v. 1. Salvador: EDUFBA, 2024.
- QUEIROZ, André (comp. e tradução). Fernando Pino Solanas: cinema, política e libertação nacional. Florianópolis: Editora Insular, 2022; Cinema e luta de classes na América Latina. Florianópolis: Editora Insular, 2024.
- SILVA, Juliano Gonçalves. O índio no cinema brasileiro e o espelho recente. Ponta Grossa: Editora Monstro dos Mares, 2020.
- SILVA, Mile; FRANÇA, Lecco; COELHO, Jamile. Cinema negro baiano. Salvador: Emoriô, 2021.
- SORANZ, Gustavo. Cinema no Amazonas: 1960-1990. Manaus: Rizoma Audiovisual, 2022.
- TEDESCO, Marina C. Mulheres que constroem imagens: a parceria criativa de Kátia Coelho e Lina Chamie. Niterói, RJ: PPGCine-UFF Publicações, 2024.
- WSCHEBOR PELLEGRINO, Isabel. De la ilustración científica a la documentación cinematográfica: aproximaciones a la historia de la fotografía y el cine científicos en Uruguay (1890-1973). Montevideo: Udelar, 2024.
- ZYLBERMAN, Lior. Genocidio y cine documental. Sáenz Peña: Eduntref, 2022.
Reflexões Finais
O evento também destacou a importância dos encontros presenciais, onde “cafezinhos” e conversas informais enriquecem as trocas acadêmicas. Esses momentos de interação entre pares revelaram-se fundamentais para compartilhar dúvidas, angústias e novos caminhos para pesquisas que, muitas vezes, começam de maneira solitária em arquivos e cinematecas.
Ao final, comprovou-se que o trabalho coletivo é mais poderoso do que qualquer esforço individual. Você também está convidado para o próximo encontro, que será realizado em João Pessoa, carinhosamente apelidada de Jampa, na Paraíba!







O índio no cinema brasileiro e o espelho recente
Em O índio no cinema brasileiro e o espelho recente, Juliano aborda a representação de personagens indígenas no cinema ficcional brasileiro, fornecendo de um levantamento dos filmes que apresentam tais personagens. Esse levantamento começa em 1911, quando Juliano identifica o primeiro filme de ficção com personagens indígenas, atravessando as décadas até chegar aos anos 2000.