[podcast] Bate-papo com Coletivo AnarcoTecnológico Mariscotron

Durante alguns dias recebemos as pessoas Coletivo Anarcotecnológico Mariscotron para conversas, paçocas, botar tinta no papel e trocas. Aconteceram dois encontros com pessoas da comunidade: o primeiro foi uma conversa sobre open-source, eletrônica, componentes, energia solar, microcontroladores PIC, robótica, domótica, entre outros assuntos com visitantes da casa Monstro dos Mares, estudantes do IFPR acompanhados de um técnico administrativo em educação e o Mariscotron (FOTO). O segundo encontro foi realizado na Estação União, a ferroviária que divide a cidade de União da Vitória (PR) e Porto União (SC) no dia 18 de Setembro. Na ocasião a conversa seria somente sobre a crítica anarquista à democracia, mas enquanto esperávamos as pessoas chegarem gravamos uma entrevista para projeto de pesquisa do Vertov sobre coletivos tech e a conversa se desdobrou para cultura hacker, tecnologia, tecnopolítica e democracia. Confira o podcast!

Participantes: abobrinha, Absort0, Chúy, João Nilson e Vertov.

mariscotron.libertar.org

Eventos para encontrar os livros da Monstro dos Mares em Novembro

Tradicionalmente o mês de Novembro é aquele em que acontece a Feira Anarquista de São Paulo. Por diversos anos a Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre também rolou mais ou menos na mesma data. Todos os anos vem a ansiedade para saber a que eventos poderemos comparecer presencialmente, quais serão aqueles a que poderemos enviar livros para fortalecer o rolê. Mas este ano 2018 superou qualquer expectativa!

Neste Novembro você poderá encontrar os livros da Editora Monstro dos Mares em cinco eventos, sendo que quatro deles serão exclusivamente de cunho libertário. Com esse calendário cheio, podemos observar que há no Brasil (e também no mundo) uma ampliação da visibilidade das atividades anárquicas e anarquistas dentro e fora das universidades, bem como nas ruas na luta social diária.

Nosso bonde editorial só existe porque vemos nas éticas, práticas e visões de mundo autônomas, anárquicas e anarquistas, um modo de possibilidade, uma existencialidade epistemológica frutífera capaz de estabelecer relações com conhecimentos, saberes, modos de vida e práticas de resistência de pessoas, coletivos, bandos, bandas, rolês e movimentos da atualidade, de e para qualquer tempo.

Encontre nossos livros, encontre as pessoas que fazem a editora, ou aquelas que nos conhecem, fortaleça nossa rede de apoio e faça você também da tinta no papel um ato de resistência e enfrentamento às relações de poder opressoras que estão estabelecidas. Façamos do livro o fuzil de quem pensa!

Eventos de Novembro de 2018 que estaremos presentes ou que você poderá encontrar nossos livros:

I Colóquio Pesquisa e Anarquismo – de 06 a 09 de novembro em Florianópolis https://doity.com.br/i-coloquio-pesquisa-e-anarquismo

IX Feira Anarquista de São Paulo, 11 de Novembro, Tendal da Lapa, São Paulo. https://feiranarquistasp.wordpress.com/

I Jornada de Educação Libertária de Curitiba, 20, 21 e 22 de novembro. https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2018/09/10/i-jornada-de-educacao-libertaria-de-curitiba-pr/

XI Colóquio de Filosofia da Unespar União da Vitória, de 19 a 23 de novembro. https://coloquiofilosofiaunespar.wordpress.com/

II Feira Anarquista do Distrito Federal, dia 24 de Novembro. https://feiraanarquistadf.wordpress.com/

Um mês, muitas impressões.

Foi com um pouco de preocupação que entramos nas águas do financiamento coletivo, por medo do desconhecido. Chegamos molhando as canelas, pé por pé, sentindo o repuxo. Que bom que vocês estão aqui formando essa rede de apoio que é muito importante para a continuidade de nosso rolê editorial. Nesta primeira comunicação aberta, queremos falar um pouquinho sobre como foi esse primeiro mês e na medida possível vamos pensar formas de atualização desses números sem tornar a coisa chata.

Lá vai! 7.894 impressões, recebemos a visita de amizades da Editora Subta com quem tivemos ótimos momentos cheios de trocas de materiais, boas conversas, comidinhas, etc. Recebemos alguns alunos e um agente educacional do IFPR – Campus União da Vitória (foto) para um bate-papo sobre eletrônica e tecnologias solares juntamente com amizades do Coletivo AnarcoTecnológico Mariscotron que renderem um Podcast (sairá em primeira mão aqui na rede de apoio), participamos de uma feira de livros, recebemos livros de presente pela caixa postal.

Também entregamos exemplares do livro Ciberfeminismo para cada biblioteca da Universidade Estadual do Paraná – Unespar (em breve link do Pergamum), doação de sete exemplares do mesmo título para o IV Encontro de Gênero, Feminismos e Políticas Públicas em União da Vitória, enviamos 50 zines da coleção ao coletivo Contraciv e estamos criando materiais bem bacanas com o pessoal do BaixaCultura. Ufa! Certamente esquecemos de alguns acontecimentos, por isso pretendemos gerar mais registros sobre o que está acontecendo.

Algumas imagens estão no Instagram @monstrodosmares, posts no facebook, mas queremos utilizar mais o blog e e-mails. Falando em e-mail, graças à contribuição das pessoas que formam nossa rede de apoio, agora temos um novo endereço: [email protected] .

Agora aquela foto bonita da caixa de papel (5.000 folhas) e do Litro de tinta pigmentada de alta qualidade que conquistamos com o apoio das pessoas que confiam no livro como possibilidade real de transformação de mundos, de divulgação de ideias anárquicas, na articulação de espaços para epistemologias dissidentes dentro e fora das universidades e para além delas.

A Editora Monstro dos Mares precisa da sua ajuda para continuar, contribua com
a Rede de Apoio no Catarse ou PicPay e receba materiais impressos em sua casa. 🖨️

Reinvenções do Rádio: Tecnologia, Educação e Participação

Dentro de uma caixa postal cabem mundos inteiros que podem ser compartilhados. Chegar na agência dos Correios, dar boa tarde ao pessoal do atendimento, girar aquela chavinha minúscula e comemorar que chegou um pacote inesperado.

Aquela letra com caneta, num pacote cheio de fita e jornal – pensei – um punk visitou o carteiro! De fato, ao ver o outro lado dizia que aquele bróder enviou o livro para nosso rolê. Foi legal abrir e perceber que vieram dois livros e no mesmo momento já pensei em amizades do Programa Rádio Rebelde da 87.9Mhz FM Comunitária de Porto União, nos tempos de Rádio Tarrafa 104.7 FM Livre de Desterro e da muito saudosa Rádio Caruncho 88.7 FM Livre de Cachoeira do Sul.

O enfrentamento ao latifúndio do espectro sonoro brasileiro é uma luta constante de manos, minas e monas autonomistas e de movimentos sociais no país inteiro. Tem muita gente bacana puxando essa luta pela democratização do acesso à informação, fazendo do microfone um meio de transformação da vida, pois “usar” as ondas do rádio não se trata somente de apertar alguns botões, preparar algumas vinhetas e falar. Tocar uma rádio, seja ela livre ou comunitária requer organização, luta e participação.

Ao subir a antena, ainda que com transmissores de baixíssima potência frente aos “canhões” das rádios corporativas, as pessoas estão fazendo muito mais do que simplesmente colocar uma rádio “no ar”, elas estão fazendo ação-direta contra tudo que está posto no mundo. Ao decidir e participar coletivamente das tomadas de decisão, ao construir e compartilhar princípios, quem faz a rádio são as próprias pessoas das comunidades que são diretamente impactadas por elas. É no chão da ocupa, na escola, no rolê pela moradia, no assentamento e em cada espaço de resistência é que se faz a rádio: abrindo espaço para coletivos, movimentos e pessoas, quebrando com o modo “comercial” de se fazer rádio.

É na rádio livre e na comunitária que você ouve a companheirada falando abertamente sobre os problemas do grande capital e como isso tudo afeta a vida no planeta. Lutas contra os transgênicos e o agronegócio, direito dos povos originários e ameríndios, tecnologias livres, movimentos sociais, populações amazônicas, etc. Ouvir a rádio livre e comunitária não é uma atividade passiva de consumo de uma mídia, mas fazer parte de uma comunicação que te envolve e te convida à chegar junto e participar. É colando nas reuniões, fazendo parte dos mutirões, fortalecendo na manutenção, divulgação e claro, nas festas, também se faz um espectro sonoro libertador e libertário.

É com muita satisfação que recebemos esse material e convidamos nossas amizades em conhecer o livro e sintonizar nas rádios feitas por pessoas e movimentos para pessoas em movimento!

Vida longa!
Vertov Rox.

Editora Monstro dos Mares
Caixa Postal, 1560
Ponta Grossa – PR
84071-981

Reinvenções do Rádio: Tecnologia, Educação e Participação
Guilherme Gitahy de Figueiredo (org.)
Leni Rodrigues Coelho (org.)
Núbia Litaiff Moriz Schwamborn (org.)
Editora Alexa Cultural
254 páginas

Rede de apoio Editora Monstro dos Mares

Ajude a manter nosso projeto de divulgação acadêmica e anárquica.

O projeto

Uma rede de apoio é um grupo de pessoas interessadas em ver um rolê acontecer, se manter e seguir existindo. Depois de 8 anos fazendo livros e zines de forma absolutamente artesanal, com preços super honestos e com o objetivo de fazer com que os livros cheguem na mão de mais e mais pessoas, nós da Editora Monstro do Mares decidimos que nossa jornada requer mais fôlego para sobreviver, seguir existindo e se envolver em novas publicações com mais profundidade. Por isso, estamos colocando o barco nas águas das contribuições recorrentes, formando uma rede de apoio ao nosso projeto editorial acadêmico e anárquico para seguirmos navegando!

Assine nosso projeto

Leia nosso Manifesto:

https://monstrodosmares.milharal.org/informes/nao-…

Fortaleça!
Livros e Anarquia!
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Nossa história sobre a II Feira do Livro Anarquista de BH e a greve dos caminhoneiros

Neste final de semana vai rolar a II Feira do Livro Anarquista de Belo Horizonte. Fizemos cerca de 8.000 impressões de livros e zines para enviar ao evento que acontece nos dias 8 e 9 de Junho, com bônus de festa junina no domingo dia 10. Nenhuma das pessoas que fazem parte do coletivo da Monstro dos Mares mora em BH ou na região, mas conseguimos a solidariedade de compas para distribuir o material. Valeuzão!

Confira a programação da feira em feiraanarquistabh.noblogs.org ou no facebook.

No dia 15 de Maio nossa tiragem para o evento estava em 3.000 impressões e a opção seria enviar os materiais pelos Correios, sabendo que o prazo é em torno de 21 dias. Porém, com as recentes mudanças nas políticas de preços da empresa, optamos por enviar os materiais por transportadora, pois a caixa levaria somente cinco dias na estrada, podendo levar quase o triplo de peso pelo mesmo preço do PAC. Então optamos por ganhar mais uns dias, produzir mais livros e realizar a postagem entre os dias 24 e 28 de Maio.

Estávamos super confiantes em participar da feira, enviar bastante material e fortalecer as leituras das pessoas e bibliotecas dos espaços ocupados. Seguíamos com nosso cronograma de impressões. Como é do conhecimento de todas as pessoas, no dia 21 de Maio estourou a greve dos caminhoneiros e o Brasil se dividiu. O processo de lutas de uma categoria de trabalhadores nunca deve ser questionado por uma parcela da esquerda institucionalizada em partidos políticos e seus comitês disfarçados de sindicatos ou centrais sindicais, tampouco por nós que temos a insurreição e a luta social como horizonte. Mas estava tudo tão estranho.

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A apropriação da greve dos caminhoneiros por parte de empresários do setor e de segmentos da direita da maçônica, bem como os vexatórios pedidos de intervenção militar por parte do precariado intelectual brasileiro deixou no ar uma cara de espanto. Muitas de nós, diante deste quadro e com nossas forças esgotadas de tantas perseguições e agressões desde sempre, mas intensificadas desde 2014, optaram por esperar e verificar os desdobramentos dos acontecimentos nas estradas.

Talvez aqui fique a reflexão mais importante desse processo: Será que nós anarquistas teremos que esperar por uma insurreição legitimamente surgida em nossos meios para arregaçarmos as mangas e agir?

A pauta conservadora dos caminhoneiros, suas reivindicações baseadas somente no próprio lucro e seus custos de operação não contemplam as necessidades significativas de debate sobre o modelo logístico do país baseado neste modal, que se utiliza combustíveis fósseis, para atender um mercado que não pensa nas pessoas; nos limitados recursos naturais; no ar puro; na mobilidade urbana; no transporte coletivo; na formação de redes de assistência à cidade; na distribuição de alimentos de maneira local, sem depender de longas viagens de caminhão; sendo as ferrovias em sua grande maioria privatizadas e para atender unicamente ao agronegócio.

Com isso de fato não concordamos com o cenário que instalou nesses dias, mas ao mesmo tempo nos perguntamos porque não se ascendeu a greve geral? O que aconteceu nos segmentos de base, nas tendências e nos movimentos de luta junto à classe trabalhadora que não conseguiram/conseguimos mobilizar nossa indignação?

Não temos respostas, temos somente muitas perguntas para lidar e tentar entender quais os tipos de contribuições nós anarquistas podemos dar e em quais condições? Quem são nossos grupos de mobilização e quais tarefas estamos realizando para conscientizar as pessoas das injustiças, da exploração do mercado, da subserviência dos governos e do oportunismo dos políticos profissionais. Quais são nossas responsabilidades nisso? Queremos a revolução social, mas como? Quando.

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Parte do material que não foi para BH, hehehe

Com isso, não foi possível enviar os materiais para a feira em tempo de garantir nossa participação. Mas queremos que todas compas recebam nossa saudação e nossa vontade de participar na próxima edição. Que os ventos possam levar o espectro de solidariedade e que possam surgir bons debates, movimentações e perspectivas de luta capazes de contribuir com respostas aos questionamentos que seguem ecoando dentro de nós ao longo da história.

Livros e anarquia!

viagem, livros e o frete

na semana passada, estive em Ponta Grossa e levei uma mala com livros. algumas coisas ficaram por lá, outras voltaram e estão indo para outros lugares agora pelo correio. pela internet, várias pessoas ficam sabendo sobre os livros e podem comprá-los online. mas quando viajo levando uma mala com livros, podemos perceber nas pessoas a surpresa até mesmo com a ideia de que há pessoas que viajam carregando muitos quilos de papel por aí.

[são muitos quilos mesmo, por isso agradeço bastante ao coletivo marie curie, que nos recebeu tão afetuosamente.]

claro que eu gostaria de estar muito mais “por aí”; quer dizer, gostaria muito de poder contar com um meio de transporte próprio eficaz para distâncias mais longas, mais bagagem e mais gente ao mesmo tempo (logo chegamos lá), mas de qualquer forma, conseguimos fazer (poucas e breves) viagens. mesmo assim, elas foram muito relevantes porque estabelecemos contatos com muitas pessoas e reencontramos várias delas. nasceram muitos projetos legais nesses contatos. em breve, espero que comecem a aparecer por aqui também.

pensando nas nossas atuais opções de transporte de livros (correios ou transportadora, para pacotes maiores), nos aumentos das taxas dos correios e da gasolina, na crise da gasosa 2018/1 e em como tudo isso impactou não só as vendas que suportam financeiramente a existência da editora mas também a própria ideia de difusão da presença física dos livros (indo além do “passa o link do pdf”), entendi que essa promoção do dia do geógrafo (vejam que saiu no masculino mesmo, e só fomos perceber isso agora) propicia o frete que leva o livro a muitos lugares que, de outra maneira não atingiria. seja porque o frete via correios anda caro, seja porque nós não somos uma editora assim tão famosa e em muitos lugares a notícia sobre o lançamento do livro não chegou.

esse frete propiciado por alguém que já vai comprar dois para presentear outra pessoa, e leva mais um para colocar em um lugar de sua escolha (seja a biblioteca de uma instituição de ensino, uma biblioteca popular ou as prateleiras de um coletivo) é um incentivo para que a gente mesma faça parte da distribuição dos livros e reconfigure o território da leitura ao nosso redor.

ou, como escreve josé vandério, página 89:

[…] para sair do domínio da utopia como projeto quase inalcançável, diante da consciência de opressão e da prática da submissão, é vindouro suplantar o fetiche do saber, relançando o saber ao ato de fazer, recriar o saber fazer, instigando as ações individuais e coletivas de revolta da consciência para que possam tensionar a negação das estruturas ideológicas, fragilizando por dentro o grande sentimento de angústia obediente da mediação capitalista.

leia e distribua!

abobrinha

Não se corromper pra nóis já é vitória! Sobre o processo em curso de gourmetização dos livros independentes.

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
Castro Alves, Espumas Flutuantes, 1870.

Cultura como um produto das elites

Percebe-se que na história, desde a antiguidade até o World Trade Center (9/11), as elites criam hierarquias culturais a serviço de seus mais diversos anseios. No modo de pensar hegemônico desta contemporaneidade decrépita, é evidente que existem conceitos diferentes de “cultura”. Dentre os conceitos possíveis, destacamos o conceito de “Cultura” das elites, autorizado e reproduzido como o ápice das realizações da Humanidade. Hoje, quem são as pessoas que leem, frequentam espetáculos, têm acesso facilitado e mais oportunidades de acesso a atividades culturais, teatros, cinematecas e espaços especialmente destinados à reprodução da cultura cooptada e esculpida pela e para a elte e à alimentação de um sistema social excludente?

A fruição dessa “Cultura” nunca foi, por motivos que já começam a ficar aparentes neste texto, nunca foi universalizada. Ou melhor, dizem para nós que qualquer pessoa pode entrar num museu e usufruir do contato com os quadros dos Grandes Mestres, com as coreografias dos mais renomados grupos de dança. Entretanto, por mais que os discursos de governos, mecenas e programas institucionais ousem afirmar que a “Cultura é de todos”, não podemos negar, tendo o mínimo de consciência do contexto em que vivemos, que isso é mais uma mentira que nos contam.

A cultura produzida fora dos quadrantes hegemônicos (cultura feita pela elite para a elite; cultura feita pela elite para “o povo”; cultura popular cooptada e reapresentada como “cultura popular”; a não-Cultura ou os produtos culturais de baixíssimo nível mas são vendidos com a auto-consciência de que são péssimos), a produção cultural, seja ela artística ou de costumes, se dá por seus próprios mestres. Sempre estiveram em suas comunidades, com ou sem incentivos de ONG´s, OSCIP´s ou das Casas Fora-do-Eixo e suas picaretagens sem fim. A cultura popular é marginalizada em um processo disruptivo fomentado pela abstração erudita, colonial e eurocêntrica da ideia de “Cultura”.

No Brasil, a Poesia Marginal, a Geração Mimeógrafo, os Fanzineiros do Século Passado já nos apresentaram outros modos de compreender o fazer cultural. Feministas, Militantes, Rebeldes, Punks, Anarquistas e Hackers vêm, no decorrer dos anos, apropriando-se dos processos que até então eram exclusivos da indústria, seja pelo dinamismo das tecnologias ou do compartilhamento das técnicas. Mais do que isso, pela necessidade de não depender da aprovação do Deus Mercado para colocar seus gritos de resistência na fita, no disco, fanzine ou livro. Guerreiras e guerreiros que sempre fizeram das ruas o seu palco e estendem os braços para subverter a lógica do consumo e fazer sua arte, seja ela teatro, circo, poesia, música, cinema, tudo o que você conseguir inserir nesta lista. Mas antes de qualquer coisa, a tarefa é a de assumir para si o empenho de ser seu próprio meio de expressão, fazer a autonomia acontecer livre de intermediações. Ocupar a arte em todos os seus processos.

O processo de gourmetização não é novo e sabemos para onde ele vai

O título deste artigo poderia ser simplesmente “Não gourmetizem os livros”, mas o “toque de Midas” dos hipsters já aconteceu e isso não é nenhuma novidade. Foi assim com as revistas em quadrinhos, discos de vinil, bicicletas, cafeterias, caderninhos de anotações e comida vegana. É a gentrificação das culturas marginais. Se em algum momento nós tivemos ingenuidade o suficiente para achar que através de nossa resistência ativa e das pequenas mudanças em práticas cotidianas poderíamos enfrentar o grande capital, infelizmente essa possibilidade já se esgotou. Rapidamente a Hidra de Lerna se adapta e transforma ecobags em produtos de grandes marcas de fast fashion, utilizam bicicletas nos comerciais de automóveis de luxo. A própria bike em si foi tornada um item de luxo; já existem startups obstinadas em desenvolver hardwares para reciclagem e compostagem doméstica. Não há limites para a gourmetização.

As chamadas megastores por algumas décadas concentraram “o melhor da cultura”. Reuniam livros, cds e dvds em confortáveis e luxuosos espaços com cafeteria e música ambiente, praticamente um shopping dentro do shopping. Locais que davam (e dão) guarida à adolescência tardia de publicitários que não podiam comprar itens caros, mas que, agora, como profissionais liberais possuem dinheiro para forrar as prateleiras do seus quartinhos na casa da mãe. E o Deus Mercado capturou esse movimento e entregou a essas pessoas produtos cada vez mais luxuosos, franquias infinitas de adaptação de quadrinhos para o cinema… Com a popularização do acesso à internet (e ao download gratuito), essas grandes lojas precisaram diversificar os produtos para adolescentes de 20 e poucos anos e incluíram celulares, tablets e computadores em seus catálogos. Era o início do fim dessas grandes redes.

A indústria fonográfica, na sua face mais cruel, ou seja, as grandes gravadoras e distribuidoras de discos, preocupadas com o fenômeno peer-to-peer, realizaram a tarefa de “aprimorar” os aspectos físicos de seus produtos. E no final dos anos 90 e início dos 00, a mídia física do CD (que já anunciava uma vida curta) recebeu latas especiais, facas de cortes personalizadas e encartes riquíssimos. Tudo isso foi por água abaixo, desceu pelo ralo do esquecimento e hoje a mídia física é apenas um material de divulgação das bandas. Um mero cartão de visitas. Se em algum momento a ideia de vender discos para obter sucesso pareceu uma grande coisa a se fazer, na atualidade não passaria de uma divertida anedota. A mídia física foi substituída pelo Youtube. Perceba que não estamos falando de plataformas de compartilhamento de música P2P como poderia parecer, mas toda a efetividade das relações entre a performance e seu público está resumida ao Youtube. Se não estiver lá, nem sequer existe.

O mesmo aconteceu posteriormente com os filmes. Por décadas as pessoas juntaram seu sacrifício mensal para comprar um título para colocar na prateleira e assistir com as amizades nos finais de semana. Com a popularização do download, os dvds, tal como os CDs tinham somente dois destinos: 1) As caixinhas de plástico eram gourmetizadas com estojos, luvas, sobrecapas, finalizações e acabamentos especiais em verniz, papeis nobres e novamente encartes glamourosos e olhe lá! Latas! Sim! Dvds dentro de latas, como se fossem biscoitos importados do tempo da vovó. Igualzinho aos CDs. 2) Os famigerados balaios de ofertas, onde a pessoa comprava a preço de banana o último dos lotes dessa decadente indústria cultural.

Atualmente, o peer-to-peer dos filmes está sendo ameaçado pela Netflix (muito semelhante ao Youtube, porém com assinatura mensal), conforme alerta Peter Sunde, Co-fundador do The Pirate Bay em entrevista ao Torrent Freak (JAN/2018).

Se você chegou até aqui, já pode perceber que isso já aconteceu com livros das grandes editoras. Então não há razão de falar sobre elas, é hora de expor o próximo passo da gourmetização para além do churros e do picolé de frutas.

“Modern publishing is characterized by its being simultaneously cannibalistic and viviparous: while one publishing house is acquiring another, a third is opening for business.” STEINBERG, S. H.; Five Hundred Years of Printing. 1996, p. 244

“A editoração moderna se caracteriza por ser, ao mesmo tempo, canibal e vivípara: enquanto uma editora está adquirindo outra, uma terceira está abrindo suas portas.”

Conforme Sigfrid Henry Steinberg podemos perceber que depois de tanto comprarem umas às outras, as grandes editoras começaram a comprar as pequenas editoras. Misteriosamente começaram a brotar projetos editoriais, selos, editoras independentes e até mesmo as cartoneiras, inocentes que eram, agora correm velozes para alcançar seu espaço entre a matilha de lobos. Essa acusação, ou constatação, nos remete diretamente ao processo em curso das editoras independentes no Brasil.

Quem pesquisar na internet ou tiver o privilégio de conferir in loco como é dado o “fenômeno” das pequenas livrarias e editoras independentes em outros países, pode perceber que o que está acontecendo aqui no “país dos foliões” tem todas as características de um verdadeiro embuste! Lá fora, coletivos publicadores, pequenas editoras e autoras independentes produzem os livros, vendem de mão em mão em feiras, no próprio site, ou disponibilizam em pequenas livrarias de bairro, enviam para as amizades revenderem, compartilham com centros sociais ocupados e muito eventualmente em alguma distribuidora de nicho. “Lá fora”, pode ser a Argentina, Uruguai e Chile, não somente o velho continente. Uma distro/distribuidora de nicho se dá por temática de conteúdos, ou afinidades políticas entre as casas publicadoras e não por seu modelo de comercialização; logo, um livro independente não é um gênero da literatura, mas somente a forma com que a editora se organiza. E aqui estamos percebendo que as “Editoras Independentes” estão se transformando em mercado, um gênero, um objeto de fetiche da “indústria criativa”. Um orgulho para Pablo Capilantra e a “nova economia da cultura”.

Claro que grandes editoras compram pequenas editoras no exterior também, normal. Esse textão não é sobre isso, mas é sobre o modelo de negócios que está em curso em torno do objeto livro das editoras independentes no Brasil. Há atravessadores sedentos por serem a próxima megastore, a próxima Amazon, só que do livro independente brasileiro. É lógico que existem pessoas muito bem intencionadas que compram uma banca de jornal, um ônibus, um barco, uma bicicleta e transformam-na em livraria independente. Não são dessas pessoas que acreditam no livro independente como uma possibilidade para se fazer a cultura marginal e marginalizada chegar às mãos das pessoas que estamos falando. Estamos falando do inimigo real que quer abocanhar uma fatia dessa conquista das publicadoras autônomas e independentes. Deus Mercado está de olho e salivando por esses livros descolados.

Em breve você vai perceber que dentro das poucas megastores que a Amazon ainda não fechou haverá uma “quitandinha” com as editoras independentes, que os pequenos publicadores que nunca foram associados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) receberão como um espacinho para falar sobre suas produções em seus eventos e não precisar mais correr para fazerem sua “Bienal B”, sua Feira do Livro Autônomo e Independente na mesma data e em outros locais das grandes Feiras do Livro promovidas por instituições e governos. Aos bocados, eles pretendem assimilar as pequenas editoras como frutos de sua própria obra, como parte de sua benevolência, com sua autorização/bênção e até mesmo investindo algum dinheirinho nisso, pois afinal, se existem pessoas para comprar livros independentes, esse pode ser um bom negócio. Ao invés da mídia anunciar o acontecimento de uma contra-bienal do livro reividicando o papel das independentes, a Bienal vai apresentar sua bondade à mídia, ao conceder um “espacinho” em seus stands para as editoras independentes. Você em algum momento vai perceber a participação de um selo editoral de uma grande editora em pequenos eventos de editoras independentes. Então poderá perceber que as concessões são vias de mão dupla (canibal e vivípara) na assimilação do mercado. Se não agirmos, teremos cada vez mais livros bonitos, acabamentos especiais, recortes laser, furinhos, sobre capas, estojos, luvas, latas e menos popularização ou acesso ao livro impresso.

Já existem distribuidoras de editoras independentes recheadas de “agitadores culturais” que estão mais interessadas no objeto livro e como ele se apresenta para seus clientes de luxo, do que com as relações de contingência que fizeram emergir tais publicações. Este é um assunto muito sério, pois raramente as grandes editoras em suas distribuidoras dão descontos acima de 30% para lançamentos, o faturamento é realizado em 30, 60 e 90 dias e o frete é por conta do livreiro. Já o modelo sugerido por algumas dessas “novas” distribuidoras exige 50% do preço de capa dos títulos das editoras independentes (lançamentos inclusive), consignação (ou seja, o acerto é realizado quando e somente quando é realizada a venda ou no mês posterior) e a casa publicadora ainda precisa arcar com os custos de frete para o magnífico distribuidor. Caramba! Aí está realmente um grande modelo de negócio às custas dos esforços das independentes. Vejo o sorriso do SEBRAE neste horizonte!

Essa é uma estratégia de mercado para tornar o objeto livro distante do PDF, para que as pessoas tenham desejo de possuir a obra por seus aspectos físicos e sua aparência. Com tanta gourmetização, o preço dos livros independentes pode chegar à estratosfera. Uma implicação tautológica em direção a lucros muito rentáveis. Uma vez que o conteúdo é igual ao do PDF, ao pesquisar bem e com um pouco de sorte, a pessoa mais desatenta poderá encontrar título igual ou semelhante disponível para baixar na rede. E isso tem significado contínuos prejuízos ao Deus Mercado quando aplicado às grandes editoras. Mas quem terá o PDF das independentes?

NÃO SE CORROMPER PRA NÓIS JÁ É VITÓRIA!

Cada uma de nós na Editora Monstro dos Mares, temos em nossos princípios uma definição inequívoca e ampla sobre as possibilidades do livro de baixo custo nas mãos de compas. Para que as pessoas em contato com nossos livros, para que as ideias impressas nas páginas possam representar a potência de um fuzil. O livro é o fuzil de quem pensa! E ele deve estar na mão de todas as pessoas que estão no enfrentamento diário contra a Hidra de Lerna do grande capital.

O livro não deve ser um objeto de elites, de vanguardas intelectuais, de movimentos exclusivos, nem fruto de uma plataforma específica. O livro carrega em si todo o espectro de possibilidades e experiências de que algo que foi realmente feito para o propósito de estar nas mãos das pessoas, em toda parte. Como afirma Aragorn, no editorial da revista AJODA #59, Primavera/Verão de 2009.

Não se corromper pra nóis já é vitória! Assumimos aqui o compromisso de colocar tinta no papel, cortar, grampear, colar, montar o livro e oferecer títulos de baixo e baixíssimo custo para todas as pessoas. Estendemos este convite às nossas amizades, que tragam esse objetivo em seus princípios para suas editoras, que as autoras e autores exijam a possibilidade de popularizar o acesso ao livro e também, obviamente, que as pessoas rejeitem a gourmetização não apenas dos livros! Baixe o PDF, imprima, distribua!

Entendemos que esse tema causa divergência entre as pessoas que buscam objetivamente viver somente da produção de sua pequena editora, mas nossa experiência fazendo livros, estando nas ruas, na internet e de mão em mão, apresenta a condição de possibilidade para seguir realizando essa tarefa como um princípio, sem depender de intermediários ou grandes redes. Você pode não concordar com este posicionamento, mas este é um princípio muito caro para nossos objetivos e se mais pessoas compartilharem dessas práticas poderemos enfrentar a máquina com mais vigor.

Resista / Recuse
Livros e Anarquia
Editora Monstro dos Mares
Maio de 2018
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Este artigo é dedicado à memória de Aaron Swartz

Quando conhecemos o cotidiano da atividade acadêmica no Brasil é latente as condições de precariedade de pesquisadoras e pesquisadores. Em via de regra, não há bibliotecas especializadas, não há federalização de acervos, não há títulos impressos acessíveis. Salvo as raras exceções, ou a pessoa paga caro pelo livro no Brasil, compra o original no exterior ou “cavuca” a internet atrás do arquivo digital, preferencialmente sem pagar por isso. É praticamente impossível passar pela academia sem a obrigação de baixar conteúdos em repositórios online considerados “ilegais”.

Por isso é importante a memória da luta de Aaron Swartz, que agiu contra os altos custos para acessar conteúdos acadêmicos. O jovem ativista foi levado ao suicídio depois de intermináveis acusações, processos e judicializações. A própria internet surgiu como ferramenta de compartilhamento e universalização do conhecimento, mas se observa que mais e mais barreiras são erguidas em todas as direções. Não podemos permitir que essa jornada prossiga, compartilhe!

Nem Google Analytics, nem Facebook Pixel!

Recentemente aconteceu em São Paulo a CryptoRave, um evento tocha onde pessoas se encontram para trocar informações sobre atividades de segurança, criptografia, hacking, anonimato, privacidade e liberdade na rede. Um dos pontos que estiveram presentes foi justamente a questão da comercialização de dados de navegação por parte das grandes corporações e como isso afeta nossas vidas.

Ao assistir a apresentação “Tor – resistir à distopia da vigilância sem fronteiras!“, de Isabela Bagueros, optamos por remover os scripts de Google Analytics e Facebook Pixel de nossa lojinha. Também realizamos uma pesquisa sobre a possibilidade de realizar compras anônimas ou desativar obrigatoriedades de CPF ou número de telefone nas compras. Mas devido as políticas e exigências dos meios de pagamento (outra questão que devemos problematizar) e os recursos limitados da plataforma de e-commerce que utilizamos, não foram possíveis essas implementações. Esperamos que em um futuro próximo, em servidor próprio e serviço Onion. Quem sabe.

Entendemos que há uma necessidade crescente de debates sobre a privacidade de dados e que de alguma maneira possamos avançar nos direitos de liberdade de expressão e anonimato para proteger pessoas e comunidades da opressão de corporações/governos, no acesso à informação e disseminação de conhecimentos livres, bem como na promoção do bem comum.


Tais modificações surgiram em conversas no grupo da Editora Monstro dos Mares no Telegram (BETA) ao abordarmos questões de segurança e privacidade de dados. Participe.

2017: mudança, ritmo, andamento e silêncios

Demorou algum tempo para perceber que algumas mudanças são realmente maiores do que se imagina. Aceitar a beleza da aleatoriedade é o que nos conduz, mas é também o que nos faz perceber que depois de alguns anos, existem distâncias maiores do que aquela que podemos traçar no mapa. Ao ganhar o mundo com as mãos, sem depender diretamente da família ou de patrão representa uma mudança marcante em nossas trajetórias pessoais. Pois essa dedicação “quase” exclusiva ao projeto editorial da Monstro dos Mares tem constituído cada dia mais nossa própria ideia de Ser no Mundo.

Em 2017 conseguimos um ritmo de produção que ainda não havíamos experimentado, foram 62.352 impressões. Não temos ideia de quantos livros e zines esse número representa, tampouco se é muito ou pouco para uma editora libertária. Mas esse tipo de contabilidade não serve de nada além de um registro de nosso próprio tempo. Temos a convicção de que, mesmo sendo detentores de um CNPJ, nós não somos uma empresa, não seguimos uma lógica mercantilista, ou tampouco queremos ser administradores, gestores, empreendedores ou nos submetermos a qualquer modelo de “sucesso”. Danem-se os Best Sellers!

Fazemos livros pois sabemos que neles “há” potencial para transformação. É na existência dessa possibilidade que acreditamos. É por causa deste “há” que jogamos tinta no papel e damos andamento a livros que chegam até as mãos das pessoas. Fazemos o necessário para que ideias disruptivas possam ganhar mais páginas, permitam ser copiadas e ganhem quilômetros de distância. É para chegar nas casas, nas ocupas, nos centros culturais, coletivos, rolês, labs, spaces, sindicatos, comunas e todo o tipo de congregação que luta por liberdades que se proponham libertar o universo, a galáxia, o planeta, a natureza, os animais e inclusive essa maldita raça humana que fazemos livros. É pela possibilidade que há.

É nas mãos desse bicho que se diz racional que todos os objetos que conhecemos tornam-se dotados de significados. É esse ser humano que é capaz de dar sentido à comunicação, articular ideias, desenvolver criatividade musical, fazer cinema e literatura. É exatamente o mesmo que condena outros com a caneta que assina leis contra os direitos da classe trabalhadora, e que forja leis chamando as manifestações do povo de terrorismo e de vandalismo, é o mesmo ser que com o fuzil puxa o gatilho e promove guerras que tentam devastar o povo Curdo e Palestino. Este ente todo privilegiado com a capacidade de pensar e fazer livros tem uma mão que mata e promove silêncios na Argentina e no Brasil.

No ano que vem, não queremos apenas nossa companheirada de pé enfrentando o ogro eleitoral, denunciando os abusos da Operação Érebo, fortalecendo a defesa de Rafael Braga, subindo barricada contra medidas de austeridade e desmandos dos políticos. No ano que vem queremos que o fogo de nossas ideias transformem esse modelo de sociedade em cinzas e que desde já, possamos pensar uma nova realidade!

Em homenagem ao amigo, Brian Matos Silva.
Editora Monstro dos Mares
Dezembro de 2017.

“Walking to the age of Chaos
Burning the Lifes
The end of Mankind
Shadows and Pain
Arrives the Death
Opening the Way
To Begin Doomsday
You! cannot escape
Fire! is your Fate
The New Reality
is Born”

The New Reality, Empires Will Fall, Rotten Filthy, 2011.

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