[Porto Alegre] Espaço: Café e Anarquia (18/03)

O Esp(a)ço convida a todys para o primeiro Café e Anarquia, um momento informal para receber pessoas que querem saber mais sobre anarquia, além de encontro e fortalecimento de laços e tomar um café, comer um bolo vegano. Quem sabe assistir algum vídeo curto? Presentear e trocar zines e outras recomendações de leitura?

Bora? Chega junto no Esp(a)ço no sábado, dia 18 de março, das 16h30 às 20h30.

A gente fica na Rua Castro Alves, 101, bairro Rio Branco em Porto Alegre.


Via O Espaço.

Sobre cuidados e como estamos todos fodidos caso não façamos grandes mudanças (Peter Gelderloos )

Mensagem de Peter Gelderloos 31 de Dezembro de 2020

Assim, em teoria, é o último dia de 2020, mas não me surpreenderia se descobríssemos algum novo tipo de duplo ano bissexto de merda.

2020 tem sido um ano realmente difícil. A maioria de nós perdeu amigos e companheiros, muitos perderam familiares. Derramamos os nossos corações em iniciativas de sobrevivência expandidas e rebeliões ardentes, mas ainda não foi suficiente. Ainda não vimos o fim de toda a dor acumulada nos nossos círculos. Quero agradecer à dúzia de amizades que tornaram possível que eu sobrevivesse a este ano, sendo atenciosos e atentos. São os anarquistas mais verdadeiros que conheço, alguns dos únicos que realmente compreendem a solidariedade e a ajuda mútua. Mas os agradecimentos são inúteis se não estivermos abertos à mudança.

Refletindo sobre essas amizades, são quase todas mulheres, não brancas e pessoas neuro-atípicas. Peço veementemente a todos que pensem nas pessoas que cuidaram de pessoas em seus círculos (se você é uma delas, dê a si próprio um pouco de amor). Os homens e as pessoas neurotípicas precisam se comprometer com isso. O cuidado é uma habilidade para toda a vida. Ninguém vai aprender isso num só dia. Mas há algo que podemos mudar AGORA e temos de mudar se não quisermos que as nossas (pseudo)comunidades caiam e ardam em trauma, depressão e pobreza no próximo ano.

Para quem você olha como o alicerce da sua comunidade/círculo, aquela pessoa cuja orientação você procura para estabelecer normas sobre como se comunicar, resolver conflitos, lidar com aqueles que sofrem, moldar o espaço social? É melhor que sejam aquelas pessoas em quem pensou (que pertencem ao teu círculo). Devem ser aqueles que todos ouvem enquanto construímos as nossas comunidades/círculos.

Não deveria ser o acadêmico a citar Agamben, o amigo que te ensina a atirar, o que tem contatos em todo o mundo, o babaca que escreve livros, o que faz as melhores festas (a menos que sejam também o que se ocupa das pessoas, já que somos todos multifacetados). Todos esses outros tipos têm algo a oferecer em momentos importantes de luta (exceto as festas, bah humbug!)1 . Mas, na maioria das vezes, é para eles que damos poder para estruturar as nossas comunidades e é por isso que temos cenas produtivistas, militaristas, dogmáticas ou baseadas na popularidade. E estes são completamente incapazes de lidar com estafa (burnout) e traumas, ou de centrar as relações na sobrevivência coletiva, que é a característica que define uma comunidade real.

Uma teoria anarquista do poder reconheceria e valorizaria cada atividade que cria a nossa liberdade e bem-estar, deveria celebrar a experiência daqueles que a têm e encorajar cada um a desenvolver as suas próprias forças.

Em vez disso, exploramos e marginalizamos aquelas de quem mais dependemos para a nossa sobrevivência coletiva. Metade das pessoas com quem se pode contar para o sustento têm estado à beira do suicídio este ano. Quero mandar um sincero foda-se a todos os que não têm pensado nisso (em cuidar) e que continuam a construir as nossas comunidades falhas em torno de todas as lógicas erradas. Vão à merda. Comprometam-se. Se ainda não perceberam que a nossa sobrevivência está em risco, saiam já daqui.

Todo o meu amor para as pessoas que têm carregado todo esse fardo. Sim, todo o meu amor para as pessoas que têm estado na linha da frente, organizando protestos, escrevendo e debatendo. Sabendo, simplesmente, quando brilhar e quando segurar outra pessoa.

Finalmente, do fundo do meu ser, uma maldição imortal para os dois tipos de “camaradas” que, na minha perspectiva, têm sido os mais prejudiciais. Aqueles que ajudam os abusivos, evitam críticas ou consequências, que se fazem de neutros, giram o moinho de rumores porque têm muito medo de falar cara a cara. E, políticos do movimento que impõem suas ideias de classe média do que é possível acima do que as pessoas realmente precisam numa situação potencialmente revolucionária; desde greves de aluguéis a rebeliões anti-polícia. Que sofram uma infelicidade sem fim ou uma autoconsciência aguda dos danos que causaram.

Mas sim, amor para todos os outros.

Por favor, faça com que os seus amigos leiam isto, especialmente os produtivistas ou os legalzões (fadas sensatas da violência e das alianças)

É isto, tchau.


Tradução e revisão: Absort0, Fernando, abobrinha.


  1. Nota: Expressão utilizada pelo personagem Ebenezer Scrooge, de Charles Dickens, que se tornou símbolo de sua rabugice []

[Roda de conversa online] Interseccionalidades: queer, anarquismo e pandemia

No dia 12 de Agosto às 16h acontecerá a roda de conversa online Interseccionalidades: queer, anarquismo e pandemia, que contará com a presença de Daniel Santos da Silva, autor de Sem lamentações: filosofia, anarquismo e outros ensaios, e Claudia Mayer, autora de queer no Brasil: resistência e empoderamento na (re/a)presentação de si e Editora Geral da Monstro dos Mares.

As inscrições podem ser realizadas em:
https://sigaa.ufra.edu.br/sigaa/public/extensao/consulta_extensao.jsf

Esse evento é organizado pelo Projeto de Pesquisa (In)visibilidades, Identidades e Diferenças: raça, gênero, sexualidades e outras interseccionalidades na memória cultural, literária dos contextos pós/de(s)-coloniais ou no sul global, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Tomé-Açu/PA). O projeto é coordenado pelo professor Marcelo Spitzner, autor de Judith Butler & Michel Foucault: considerações em torno da performatividade, do discurso e da constituição do sujeito.

O encontro também fará parte do I Congresso Internacional de Estudos Multidisciplinares na Amazônia, que acontecerá online nos dias 10, 11 e 12 de Agosto. As inscrições irão até o dia 07/08 e podem ser realizadas no site do evento.


[Podcast] Bate-papo com Daniel Santos da Silva sobre o lançamento de “Sem lamentações: filosofia, anarquismo e outros ensaios”

No dia 12 deste mês tivemos o prazer de gravar um bate-papo com nosso amigo e companheiro de luta Daniel Santos da Silva, autor do livro Sem lamentações: filosofia, anarquismo e outros ensaios.

Atualmente, Daniel é professor de Filosofia na Universidade Estadual do Paraná, campus União da Vitória. Mestre pela Universidade Estadual do Ceará, Doutor e Pós-Doutor pela Universidade de São Paulo, Daniel constrói ricos entrelaces entre suas vivências teóricas dentro da academia e suas experiências fora dela, que o levaram de Brasília a Fortaleza, a São Paulo e ao interior paranaense, além dos muitos outros lugares que fizeram parte de sua trajetória.

Em Sem lamentações encontram-se textos escritos durante um período de dez anos e, como o autor mesmo confirmou em nossa conversa, é possível à leitura atenta perceber os matizes das transformações que foram acontecendo através do passar do tempo.

Ficamos muito felizes por transferir parte da vida e do trabalho do Daniel à folha impressa, e também por termos tido a oportunidade de conversar mais sobre tudo isso com o amigo querido.

Este episódio está disponível em:

Spotify, Breaker, Google Podcasts, Overcast, Pocket Casts, Radio Public, Anchor, RSS.

O livro está disponível para download gratuito ao final desta página.


Feliz 2019, criptografe seus dispositivos!

O ano de 2019 já começou e 2013 nem mesmo terminou. O estado de vigilância, as perseguições e criminalização das lutas, dos movimentos e das pautas sociais sempre estiveram em funcionamento mesmo antes da aprovação da Lei Antiterrorismo sancionada pela presidenta Dilma. Só que agora a coragem de alguns adquiriu novas configurações e indígenas estão sendo assassinados por bandos desconhecidos (que muitos sabem que são pau-mandados do agronegócio), os direitos sociais da classe trabalhadora recua cada dia mais com a terceirização irrestrita, privatizações, achaque na previdência e outros tantos.

Aqui na Monstro dos Mares nós fazemos livros e desde antes da Operação Érebo já sabíamos que livros não podem ser provas de crimes, mas que estão sendo criminalizados. Entra governo, sai governo, recebemos notícias de que a moradia de militantes sociais, centros de cultura libertária, ocupas, ongs, sede de federações anarquistas estão sendo invadidas, onde curiosamente livros (sim, livros!) e garrafas PET são apreendidos e exibidos para as câmeras de TV como indícios de crimes potenciais numa verdadeira afronta à racionalidade humana.

Mas afinal que tipo de racionalidade esperamos?

Fazemos livros para que mais e mais pessoas possam descobrir por seus próprios meios ou de mãos dadas com monas, minas e manos, que a liberdade não deve ser apenas um direito dado aos ricos, tirando-as de quem mais sofre. Nossos livros contêm palavras daquelas pessoas que lutam por direitos sociais, por igualdade, por reconhecimento das diversidades, pelo direito à terra, pelo acesso à condições dignas de moradia e trabalho. Nossas edições, bem como impressões de editoras e coletivos que consideramos próximas às nossas ideias tratam de perspectivas anárquicas de enfrentamento às opressões, sejam elas onde estiverem: no preconceito racial, na desigualdade social, no binarismo de gênero, determinismo biológico, especismo, do marido/padre/pastor, do patrão, da pátria, da polícia, da política, do mercado e do estado. Não interessa onde estão as opressões, interessa é saber como você vai arregaçar as mangas, esticar os braços e (re)tomar o seu espaço.

Para isso convocamos:

Criptografe seus dispositivos, utilize navegação segura, crie ruídos nas frequências onde você e seus não possam ser escaneados. Encontre-se, discuta, produza, manifeste e celebre, ainda que secretamente, ainda que ninguém possa ver.

Faça de 2019 o início de um novo tempo contra o fim de todas as opressões!

Proteja seus dados:

2017: mudança, ritmo, andamento e silêncios

Demorou algum tempo para perceber que algumas mudanças são realmente maiores do que se imagina. Aceitar a beleza da aleatoriedade é o que nos conduz, mas é também o que nos faz perceber que depois de alguns anos, existem distâncias maiores do que aquela que podemos traçar no mapa. Ao ganhar o mundo com as mãos, sem depender diretamente da família ou de patrão representa uma mudança marcante em nossas trajetórias pessoais. Pois essa dedicação “quase” exclusiva ao projeto editorial da Monstro dos Mares tem constituído cada dia mais nossa própria ideia de Ser no Mundo.

Em 2017 conseguimos um ritmo de produção que ainda não havíamos experimentado, foram 62.352 impressões. Não temos ideia de quantos livros e zines esse número representa, tampouco se é muito ou pouco para uma editora libertária. Mas esse tipo de contabilidade não serve de nada além de um registro de nosso próprio tempo. Temos a convicção de que, mesmo sendo detentores de um CNPJ, nós não somos uma empresa, não seguimos uma lógica mercantilista, ou tampouco queremos ser administradores, gestores, empreendedores ou nos submetermos a qualquer modelo de “sucesso”. Danem-se os Best Sellers!

Fazemos livros pois sabemos que neles “há” potencial para transformação. É na existência dessa possibilidade que acreditamos. É por causa deste “há” que jogamos tinta no papel e damos andamento a livros que chegam até as mãos das pessoas. Fazemos o necessário para que ideias disruptivas possam ganhar mais páginas, permitam ser copiadas e ganhem quilômetros de distância. É para chegar nas casas, nas ocupas, nos centros culturais, coletivos, rolês, labs, spaces, sindicatos, comunas e todo o tipo de congregação que luta por liberdades que se proponham libertar o universo, a galáxia, o planeta, a natureza, os animais e inclusive essa maldita raça humana que fazemos livros. É pela possibilidade que há.

É nas mãos desse bicho que se diz racional que todos os objetos que conhecemos tornam-se dotados de significados. É esse ser humano que é capaz de dar sentido à comunicação, articular ideias, desenvolver criatividade musical, fazer cinema e literatura. É exatamente o mesmo que condena outros com a caneta que assina leis contra os direitos da classe trabalhadora, e que forja leis chamando as manifestações do povo de terrorismo e de vandalismo, é o mesmo ser que com o fuzil puxa o gatilho e promove guerras que tentam devastar o povo Curdo e Palestino. Este ente todo privilegiado com a capacidade de pensar e fazer livros tem uma mão que mata e promove silêncios na Argentina e no Brasil.

No ano que vem, não queremos apenas nossa companheirada de pé enfrentando o ogro eleitoral, denunciando os abusos da Operação Érebo, fortalecendo a defesa de Rafael Braga, subindo barricada contra medidas de austeridade e desmandos dos políticos. No ano que vem queremos que o fogo de nossas ideias transformem esse modelo de sociedade em cinzas e que desde já, possamos pensar uma nova realidade!

Em homenagem ao amigo, Brian Matos Silva.
Editora Monstro dos Mares
Dezembro de 2017.

“Walking to the age of Chaos
Burning the Lifes
The end of Mankind
Shadows and Pain
Arrives the Death
Opening the Way
To Begin Doomsday
You! cannot escape
Fire! is your Fate
The New Reality
is Born”

The New Reality, Empires Will Fall, Rotten Filthy, 2011.

Calendário de Novembro

A Editora Artesanal Monstro dos Mares + AntiEditora Editora Libertária, estarão presentes em diversos eventos no mês de Novembro, graças a boa vontade das pessoas que participam deste coletivo publicador em se deslocar por aí e/ou ajudar com doações para custear viagens e impressões de mais e mais exemplares.

– dia 10, Feira do Livro Anarquista de São Paulo
– de 11 a 13, Colóquio Internacional Ciência e Anarquismo da USP
– dias 14, 15, 16 e 17, Aldeia Caiana, Vera Cruz, RS
– dias 15, 16 e 17, IV Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre
– dia 15, Festival Eu Quero é Rock II, Cachoeira do Sul, RS
– dia 16, Lançamento e conversa sobre O ANARQUISMO E SUAS ASPIRAÇÕES, Porto Alegre, RS
– dia 24, Vandalismo Cultural, Pindamonhangaba, SP (http://vai.la/3gi8)

Pedidos, encomendas, doações e informações por inbox ou através do e-mail [email protected]

Calendário de Novembro

A Editora Artesanal Monstro dos Mares + AntiEditora Editora Libertária, estarão presentes em diversos eventos no mês de Novembro, graças a boa vontade das pessoas que participam deste coletivo publicador em se deslocar por aí e/ou ajudar com doações para custear viagens e impressões de mais e mais exemplares.

– dia 10, Feira do Livro Anarquista de São Paulo
– de 11 a 13, Colóquio Internacional Ciência e Anarquismo da USP
– dias 14, 15, 16 e 17, Aldeia Caiana, Vera Cruz, RS
– dias 15, 16 e 17, IV Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre
– dia 15, Festival Eu Quero é Rock II, Cachoeira do Sul, RS
– dia 16, Lançamento e conversa sobre O ANARQUISMO E SUAS ASPIRAÇÕES, Porto Alegre, RS
– dia 24, Vandalismo Cultural, Pindamonhangaba, SP (http://vai.la/3gi8)

Pedidos, encomendas, doações e informações por inbox ou através do e-mail [email protected]

I Encontro Anarquista de Ribeirão Preto

I Encontro Anarquista de Ribeirão Preto, realizado pelo Coletivo Libertário Viver a Utopia nos dias 12 e 13 de Outubro no Memorial da Classe Operária. O evento contará com a presença de editoras e ocorrerá conjuntamente XII Expressões Anarquistas.

Informações:
http://viverautopia.org/
Fanpage no Facebook

[reflexão] Para publicar – A necessidade de tinta no papel nas publicações anarquistas da atualidade (por Aragorn!)

Dentro de cada pessoa cínica, há um idealista desapontado.

George Carlin

Se publicar é a prática de colocar tinta no papel e jogar na mão do povo, então criar uma editora é barbada (principalmente se for uma editora anarquista). Embora existam indiscutivelmente mais livros anarquistas sendo publicados do que em qualquer outro momento da história, a quantidade de leitores está diminuindo. Publicações anarquistas, sejam panfletos, jornais e revistas, estão reduzindo no universo inteiro. Cronogramas de publicação sem frequências definidas e diminuição das tiragens, indicam que o tempo do papel pode estar chegando ao fim para os periódicos anarquistas.

O indicador para essa contagem é que tem havido uma correspondente, se não maior, ascensão de publicações anarquistas na internet. Mas será que esse é realmente o caso? Isso vai depender do que você entende por publicação. Por exemplo, no site infoshop.org, podemos encontrar a maior e mais antiga publicação anarquista na web, ao longo de um ano, seria difícil encontrar um grande volume de conteúdo original na parte de notícias (já que é a mais ativa) para preencher as páginas de uma revista. Isto não é uma crítica, mas uma declaração de como uma publicação na internet é qualitativamente diferente de um jornal ou revista, onde republicações são a exceção e não a regra.

Por isso, talvez seja necessário uma definição mais ampla de publicação anarquista. Livrar-se de publicações de tinta e papel, pode ser visto como mais saudável e ecológico do que nunca. Sabemos que esses são dias felizes de discussões sobre os acontecimentos do outro lado do mundo, artigos escritos na semana passada, e detalhes picantes que antigamente teriam levado anos para descobrir sobre os heróis e vilões da anarcolândia (risos). Mas o que perdemos neste mundo novo da informação constante que se limita as telas, as conexões banda larga; especialistas das artes digitais, HTML, CMS, e manipulação de imagens?

O ritmo, o tato, a sedução, o contexto, a simplicidade, clareza, escrita bonita, profundidade, debate informado, e as relações pessoais aos autores é o que perdemos. É bem provável que essas coisas não vão voltar, nem nas publicações anarquistas ou em qualquer outra. Além disso, há uma massa crítica de leitores que deram adeus aos preços de venda; artigos longos demais; autores especializados; nome de editoras; cronogramas lentos de novas publicações e a quantidade de tempo levam para que periódicos possam ser impressos. As pessoas já não esperam impressões, em geral, as editoras que imprimem materiais estão desaparecendo uma a uma. Qualquer editor que deseja ser relevante deve manter uma presença na internet, mas o oposto disso também é verdade. O movimento em direção ao digital (evidenciado pelo número crescente de versões “apenas pdf” de publicações anarquistas) e incapacidade de um número maior de projetos capazes de ganhar voz própria é uma demonstração dos tempos sombrios que temos pela frente. Claro, haverá mais palavras, mais coisas jogadas contra as paredes digitais na esperança de ficar, mas isso não vai ser notado. Na melhor das hipóteses um novo tipo de elite virtual (que já existe e se diz dona de muitos espaços anti-autoritários) vão se virar na direção de um texto e pipocar novos links. E assim vão continuar na próxima semana. Até pintar a próxima coisa, a próxima falsa controvérsia, o próximo prazer, a próxima distração.

Isso é bem diferente do que acontece num zine, do mais humilde ao mais fantástico, até mesmo uma revista de crítica anarquista no fundo da mochila de um viajante. A tinta no papel contém mais possibilidades de serem redescobertos muitos anos depois, de encontrar um novo público. Editoras anarquistas de nossos tempos devem emergir como uma solução para um problema novo, que neste momento parece ser mais grave do que a própria extinção de editoras no século passado. Se a ideia de vivermos livres de coerção significou em algum momento vivermos livre do trampo de imprimir e distribuir, isto não tem se mostrado uma boa ideia. Existe um mercadão de ideias, nossas premissas de liberdade e anarquia já não parecem ser muito convidativas. O caminho é solitário e perigoso. Pode parecer pouco evidente, mas o processo de desejar a liberdade anarquista, de articular um mundo diferente enquanto estiver sob coação, é parte do processo para se tornar uma pessoa informada e educada ao longo da vida anarquista, tal como ler as palavras dos velhos anarquistas, ou o famoso FAQ.

O processo de colocar tinta no papel e entregá-los para pessoas que estão interessadas contém um espectro completo de experiências sobre como realmente podemos fazer alguma coisa. Como transformar boas ideias (e mesmo as meia-boca) em sucessos ou fracassos. No papel essas ideias tem um valor próprio, mais do que elogios, críticas e enganos, o resultado é jogar mais ideias para o mundo. O processo de transferir palavras impressas de lá pra cá, de você pra mim, é também a conexão primária que faz existir uma editora para dezenas, centenas ou milhares de pessoas que serão escribas do futuro, feitiçeirxs da anarquia, companheirxs que podem fazer as coisas acontecerem e as melhores amizades que você nunca vai ter.

Por Aragorn!
Versão para o português por Vertov

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