Caixa Postal: intercâmbio de materiais com Imprensa Marginal

Ao encontrar materiais anarquistas em banquinhas em algum festival ou evento, é bem possível que você encontre algumas publicações da Imprensa Marginal. Afinal, o grupo anarcopunk produz livros e zines sobre anarquismo, punk, feminismo, antifascismo e outros temas relacionados às lutas sociais desde 2005. Essa galera bota material em circulação seguindo a prática do faça-você-mesma.

Encontramos com uma das pessoas que toca esse bonde em Porto Alegre em 2015 e recentemente trocamos algumas mensagens sobre os processos de produção que a Imprensa Marginal e a Monstro dos Mares utilizam. Rolou um intercâmbio bacana de informações e publicações. Recebemos uma caixona com exemplares dos títulos do grupo e enviamos um pacote com alguns de nossos livros e zines.

Estamos felizes em trocar materiais com a Imprensa Marginal, uma referência na divulgação de materiais libertários, editora e distro.Valeu! Todos os materiais serão distribuídos gratuitamente entre as pessoas que participam de nossa Rede de Apoio, singularidades, coletivos e movimentos.

Se você ou seu coletivo tiver interesse em intercambiar materiais conosco, entre em contato pelo e-mail [email protected]

Instituto DataMonstro informa: Em Fevereiro chegamos a 150.000 impressões

Ironizando o economiquês:

Conforme o último relatório do Instituto DataMonstro divulgado com os números do mês de Fevereiro, a Monstro dos Mares, pequena editora de divulgação acadêmica e anárquica do interior do Paraná, realizou 151.862 impressões, sendo 18.854 somente neste período. É importante salientar que não é possível realizar a distinção entre livros e zines no formato A5 ou A6, por isso foram calculados somente as impressões A4, indiferentemente se do tipo “frente e verso” ou somente em um lado da folha.

Conversamos com um dos editores sobre o relatório:

Nosso objetivo com esse levantamento é compreender o quanto somos pessoas dedicadas em fazer livros/zines, divulgar a cultura libertária e as epistemologias dissidentes com uma quantidade de materiais distribuídos gratuitamente para manos, minas e monas que fortalecem a anarquia e o anarquismo. Neste mês de Fevereiro por exemplo, nós recebemos a visita das amizades da Editora Subta e com isso foi possível enviar muitos livros para distribuição sem nenhum custo. Também enviamos materiais para alguns espaços e bibliotecas comunitárias através dos correios. Fazer livros é só felicidade!
Editor V.

Conforme apuração, nos próximos meses a editora artesanal pretende ampliar o estoque de materiais para participar de mais eventos ou enviar as caixas para singularidades e coletivos que, segundo o editor V., “fazem a mão” em festivais e congressos.

/fim da ironia

Vamos aos números:

Total de impressões: 151.862
Impressões em Fevereiro: 18.854
Livros impressos: 151
Livros doados / distribuição gratuita: 121
Zines impressos: 608
Zines doados / distribuição gratuita: 85

Mensalmente pessoas de diversas partes do país contribuem pública e anonimamente para que possamos manter nosso endereço de domínio no site da loja, manter ativa nossa caixa postal, realizar manutenção nas guilhotinas, comprar papel e tinta que são utilizadas na impressão dos materiais distribuídos gratuitamente, envio através dos Correios para singularidades e coletivos. Bem como, a aquisição de novos equipamentos e melhoria das condições de nosso pequeno, mas valoroso espaço. Valeu mesmo! Obrigado por somar à nossa Rede de Apoio.

Ei pirata! 🏴‍☠️
Faça parte da Rede de Apoio da editora fazendo uma contribuição mensal:
Catarse assinaturas ou no PicPay assinaturas

Chegamos em Ponta Grossa!

Para as amizades mais próximas e as pessoas que acompanham nosso bonde editorial nas redes corporativas já sacaram que nossas postagens estão saindo como Ponta Grossa / Paraná ali onde a ABIN e a NSA utilizam para localizar geograficamente os ip’s das publicações. Enfim, a Editora Monstro dos Mares chegou à Princesa dos Campos!

Queremos encontrar as amizades dos movimentos sociais e autônomos, trocar ideias, xícaras de chá (pode ser café também) e construir junto com as pessoas em movimento, os bandos, bondes, coletivos, rolês e movimentos uma alternativa dissidente de educação, publicações independentes e formação de militantes e/ou ativistas. Seja através da distribuição de materiais gratuitos, com preços baixos e baixíssimos, publicando artigos de estudantes, educadoras e educadores, pesquisadores, etc.

Também estamos à disposição das amizades para rodas de conversas, debates, oficinas diversas, exposição de livros/zines em eventos. Só chamar!

Nossos números de Janeiro de 2019

Desde que estamos aqui já produzimos muito!

Total de impressões: 133.008
Impressões no mês de Janeiro: 11.367
Livros produzidos: 190
Livros doados: 20
Zines produzidos: 359
Zines doados: 43

Numerologia: Hotsite com informações sobre nossos números mensais/anuais 🔮
https://monstrodosmares.com.br/numerologia

Morte em Espiral na caixa postal

Manter uma caixa postal é estar sempre com a curiosidade sobre o que pode haver atrás daquela portinha de lata. Geralmente são encomendas de papéis de capa, tinta e insumos para fazermos livros. Eventualmente aparece um envelope com livros e zines de pessoas que carinhosamente curtem nosso trampo e fazem essa troca de materiais.

No pacote vieram três zines e um adesivo de @morte_em_espiral, ficamos felizes em receber e trocar materiais com pessoas que produzem uma cultura livre e independente. Escreva para nós!

Monstro dos Mares
Caixa Postal 1560
Ponta Grossa – PR
84071-981

Reinvenções do Rádio: Tecnologia, Educação e Participação

Dentro de uma caixa postal cabem mundos inteiros que podem ser compartilhados. Chegar na agência dos Correios, dar boa tarde ao pessoal do atendimento, girar aquela chavinha minúscula e comemorar que chegou um pacote inesperado.

Aquela letra com caneta, num pacote cheio de fita e jornal – pensei – um punk visitou o carteiro! De fato, ao ver o outro lado dizia que aquele bróder enviou o livro para nosso rolê. Foi legal abrir e perceber que vieram dois livros e no mesmo momento já pensei em amizades do Programa Rádio Rebelde da 87.9Mhz FM Comunitária de Porto União, nos tempos de Rádio Tarrafa 104.7 FM Livre de Desterro e da muito saudosa Rádio Caruncho 88.7 FM Livre de Cachoeira do Sul.

O enfrentamento ao latifúndio do espectro sonoro brasileiro é uma luta constante de manos, minas e monas autonomistas e de movimentos sociais no país inteiro. Tem muita gente bacana puxando essa luta pela democratização do acesso à informação, fazendo do microfone um meio de transformação da vida, pois “usar” as ondas do rádio não se trata somente de apertar alguns botões, preparar algumas vinhetas e falar. Tocar uma rádio, seja ela livre ou comunitária requer organização, luta e participação.

Ao subir a antena, ainda que com transmissores de baixíssima potência frente aos “canhões” das rádios corporativas, as pessoas estão fazendo muito mais do que simplesmente colocar uma rádio “no ar”, elas estão fazendo ação-direta contra tudo que está posto no mundo. Ao decidir e participar coletivamente das tomadas de decisão, ao construir e compartilhar princípios, quem faz a rádio são as próprias pessoas das comunidades que são diretamente impactadas por elas. É no chão da ocupa, na escola, no rolê pela moradia, no assentamento e em cada espaço de resistência é que se faz a rádio: abrindo espaço para coletivos, movimentos e pessoas, quebrando com o modo “comercial” de se fazer rádio.

É na rádio livre e na comunitária que você ouve a companheirada falando abertamente sobre os problemas do grande capital e como isso tudo afeta a vida no planeta. Lutas contra os transgênicos e o agronegócio, direito dos povos originários e ameríndios, tecnologias livres, movimentos sociais, populações amazônicas, etc. Ouvir a rádio livre e comunitária não é uma atividade passiva de consumo de uma mídia, mas fazer parte de uma comunicação que te envolve e te convida à chegar junto e participar. É colando nas reuniões, fazendo parte dos mutirões, fortalecendo na manutenção, divulgação e claro, nas festas, também se faz um espectro sonoro libertador e libertário.

É com muita satisfação que recebemos esse material e convidamos nossas amizades em conhecer o livro e sintonizar nas rádios feitas por pessoas e movimentos para pessoas em movimento!

Vida longa!
Vertov Rox.

Editora Monstro dos Mares
Caixa Postal, 1560
Ponta Grossa – PR
84071-981

Reinvenções do Rádio: Tecnologia, Educação e Participação
Guilherme Gitahy de Figueiredo (org.)
Leni Rodrigues Coelho (org.)
Núbia Litaiff Moriz Schwamborn (org.)
Editora Alexa Cultural
254 páginas

viagem, livros e o frete

na semana passada, estive em Ponta Grossa e levei uma mala com livros. algumas coisas ficaram por lá, outras voltaram e estão indo para outros lugares agora pelo correio. pela internet, várias pessoas ficam sabendo sobre os livros e podem comprá-los online. mas quando viajo levando uma mala com livros, podemos perceber nas pessoas a surpresa até mesmo com a ideia de que há pessoas que viajam carregando muitos quilos de papel por aí.

[são muitos quilos mesmo, por isso agradeço bastante ao coletivo marie curie, que nos recebeu tão afetuosamente.]

claro que eu gostaria de estar muito mais “por aí”; quer dizer, gostaria muito de poder contar com um meio de transporte próprio eficaz para distâncias mais longas, mais bagagem e mais gente ao mesmo tempo (logo chegamos lá), mas de qualquer forma, conseguimos fazer (poucas e breves) viagens. mesmo assim, elas foram muito relevantes porque estabelecemos contatos com muitas pessoas e reencontramos várias delas. nasceram muitos projetos legais nesses contatos. em breve, espero que comecem a aparecer por aqui também.

pensando nas nossas atuais opções de transporte de livros (correios ou transportadora, para pacotes maiores), nos aumentos das taxas dos correios e da gasolina, na crise da gasosa 2018/1 e em como tudo isso impactou não só as vendas que suportam financeiramente a existência da editora mas também a própria ideia de difusão da presença física dos livros (indo além do “passa o link do pdf”), entendi que essa promoção do dia do geógrafo (vejam que saiu no masculino mesmo, e só fomos perceber isso agora) propicia o frete que leva o livro a muitos lugares que, de outra maneira não atingiria. seja porque o frete via correios anda caro, seja porque nós não somos uma editora assim tão famosa e em muitos lugares a notícia sobre o lançamento do livro não chegou.

esse frete propiciado por alguém que já vai comprar dois para presentear outra pessoa, e leva mais um para colocar em um lugar de sua escolha (seja a biblioteca de uma instituição de ensino, uma biblioteca popular ou as prateleiras de um coletivo) é um incentivo para que a gente mesma faça parte da distribuição dos livros e reconfigure o território da leitura ao nosso redor.

ou, como escreve josé vandério, página 89:

[…] para sair do domínio da utopia como projeto quase inalcançável, diante da consciência de opressão e da prática da submissão, é vindouro suplantar o fetiche do saber, relançando o saber ao ato de fazer, recriar o saber fazer, instigando as ações individuais e coletivas de revolta da consciência para que possam tensionar a negação das estruturas ideológicas, fragilizando por dentro o grande sentimento de angústia obediente da mediação capitalista.

leia e distribua!

abobrinha

Não se corromper pra nóis já é vitória! Sobre o processo em curso de gourmetização dos livros independentes.

Oh! Bendito o que semeia
Livros à mão cheia
E manda o povo pensar!
O livro, caindo n’alma
É germe – que faz a palma,
É chuva – que faz o mar!
Castro Alves, Espumas Flutuantes, 1870.

Cultura como um produto das elites

Percebe-se que na história, desde a antiguidade até o World Trade Center (9/11), as elites criam hierarquias culturais a serviço de seus mais diversos anseios. No modo de pensar hegemônico desta contemporaneidade decrépita, é evidente que existem conceitos diferentes de “cultura”. Dentre os conceitos possíveis, destacamos o conceito de “Cultura” das elites, autorizado e reproduzido como o ápice das realizações da Humanidade. Hoje, quem são as pessoas que leem, frequentam espetáculos, têm acesso facilitado e mais oportunidades de acesso a atividades culturais, teatros, cinematecas e espaços especialmente destinados à reprodução da cultura cooptada e esculpida pela e para a elte e à alimentação de um sistema social excludente?

A fruição dessa “Cultura” nunca foi, por motivos que já começam a ficar aparentes neste texto, nunca foi universalizada. Ou melhor, dizem para nós que qualquer pessoa pode entrar num museu e usufruir do contato com os quadros dos Grandes Mestres, com as coreografias dos mais renomados grupos de dança. Entretanto, por mais que os discursos de governos, mecenas e programas institucionais ousem afirmar que a “Cultura é de todos”, não podemos negar, tendo o mínimo de consciência do contexto em que vivemos, que isso é mais uma mentira que nos contam.

A cultura produzida fora dos quadrantes hegemônicos (cultura feita pela elite para a elite; cultura feita pela elite para “o povo”; cultura popular cooptada e reapresentada como “cultura popular”; a não-Cultura ou os produtos culturais de baixíssimo nível mas são vendidos com a auto-consciência de que são péssimos), a produção cultural, seja ela artística ou de costumes, se dá por seus próprios mestres. Sempre estiveram em suas comunidades, com ou sem incentivos de ONG´s, OSCIP´s ou das Casas Fora-do-Eixo e suas picaretagens sem fim. A cultura popular é marginalizada em um processo disruptivo fomentado pela abstração erudita, colonial e eurocêntrica da ideia de “Cultura”.

No Brasil, a Poesia Marginal, a Geração Mimeógrafo, os Fanzineiros do Século Passado já nos apresentaram outros modos de compreender o fazer cultural. Feministas, Militantes, Rebeldes, Punks, Anarquistas e Hackers vêm, no decorrer dos anos, apropriando-se dos processos que até então eram exclusivos da indústria, seja pelo dinamismo das tecnologias ou do compartilhamento das técnicas. Mais do que isso, pela necessidade de não depender da aprovação do Deus Mercado para colocar seus gritos de resistência na fita, no disco, fanzine ou livro. Guerreiras e guerreiros que sempre fizeram das ruas o seu palco e estendem os braços para subverter a lógica do consumo e fazer sua arte, seja ela teatro, circo, poesia, música, cinema, tudo o que você conseguir inserir nesta lista. Mas antes de qualquer coisa, a tarefa é a de assumir para si o empenho de ser seu próprio meio de expressão, fazer a autonomia acontecer livre de intermediações. Ocupar a arte em todos os seus processos.

O processo de gourmetização não é novo e sabemos para onde ele vai

O título deste artigo poderia ser simplesmente “Não gourmetizem os livros”, mas o “toque de Midas” dos hipsters já aconteceu e isso não é nenhuma novidade. Foi assim com as revistas em quadrinhos, discos de vinil, bicicletas, cafeterias, caderninhos de anotações e comida vegana. É a gentrificação das culturas marginais. Se em algum momento nós tivemos ingenuidade o suficiente para achar que através de nossa resistência ativa e das pequenas mudanças em práticas cotidianas poderíamos enfrentar o grande capital, infelizmente essa possibilidade já se esgotou. Rapidamente a Hidra de Lerna se adapta e transforma ecobags em produtos de grandes marcas de fast fashion, utilizam bicicletas nos comerciais de automóveis de luxo. A própria bike em si foi tornada um item de luxo; já existem startups obstinadas em desenvolver hardwares para reciclagem e compostagem doméstica. Não há limites para a gourmetização.

As chamadas megastores por algumas décadas concentraram “o melhor da cultura”. Reuniam livros, cds e dvds em confortáveis e luxuosos espaços com cafeteria e música ambiente, praticamente um shopping dentro do shopping. Locais que davam (e dão) guarida à adolescência tardia de publicitários que não podiam comprar itens caros, mas que, agora, como profissionais liberais possuem dinheiro para forrar as prateleiras do seus quartinhos na casa da mãe. E o Deus Mercado capturou esse movimento e entregou a essas pessoas produtos cada vez mais luxuosos, franquias infinitas de adaptação de quadrinhos para o cinema… Com a popularização do acesso à internet (e ao download gratuito), essas grandes lojas precisaram diversificar os produtos para adolescentes de 20 e poucos anos e incluíram celulares, tablets e computadores em seus catálogos. Era o início do fim dessas grandes redes.

A indústria fonográfica, na sua face mais cruel, ou seja, as grandes gravadoras e distribuidoras de discos, preocupadas com o fenômeno peer-to-peer, realizaram a tarefa de “aprimorar” os aspectos físicos de seus produtos. E no final dos anos 90 e início dos 00, a mídia física do CD (que já anunciava uma vida curta) recebeu latas especiais, facas de cortes personalizadas e encartes riquíssimos. Tudo isso foi por água abaixo, desceu pelo ralo do esquecimento e hoje a mídia física é apenas um material de divulgação das bandas. Um mero cartão de visitas. Se em algum momento a ideia de vender discos para obter sucesso pareceu uma grande coisa a se fazer, na atualidade não passaria de uma divertida anedota. A mídia física foi substituída pelo Youtube. Perceba que não estamos falando de plataformas de compartilhamento de música P2P como poderia parecer, mas toda a efetividade das relações entre a performance e seu público está resumida ao Youtube. Se não estiver lá, nem sequer existe.

O mesmo aconteceu posteriormente com os filmes. Por décadas as pessoas juntaram seu sacrifício mensal para comprar um título para colocar na prateleira e assistir com as amizades nos finais de semana. Com a popularização do download, os dvds, tal como os CDs tinham somente dois destinos: 1) As caixinhas de plástico eram gourmetizadas com estojos, luvas, sobrecapas, finalizações e acabamentos especiais em verniz, papeis nobres e novamente encartes glamourosos e olhe lá! Latas! Sim! Dvds dentro de latas, como se fossem biscoitos importados do tempo da vovó. Igualzinho aos CDs. 2) Os famigerados balaios de ofertas, onde a pessoa comprava a preço de banana o último dos lotes dessa decadente indústria cultural.

Atualmente, o peer-to-peer dos filmes está sendo ameaçado pela Netflix (muito semelhante ao Youtube, porém com assinatura mensal), conforme alerta Peter Sunde, Co-fundador do The Pirate Bay em entrevista ao Torrent Freak (JAN/2018).

Se você chegou até aqui, já pode perceber que isso já aconteceu com livros das grandes editoras. Então não há razão de falar sobre elas, é hora de expor o próximo passo da gourmetização para além do churros e do picolé de frutas.

“Modern publishing is characterized by its being simultaneously cannibalistic and viviparous: while one publishing house is acquiring another, a third is opening for business.” STEINBERG, S. H.; Five Hundred Years of Printing. 1996, p. 244

“A editoração moderna se caracteriza por ser, ao mesmo tempo, canibal e vivípara: enquanto uma editora está adquirindo outra, uma terceira está abrindo suas portas.”

Conforme Sigfrid Henry Steinberg podemos perceber que depois de tanto comprarem umas às outras, as grandes editoras começaram a comprar as pequenas editoras. Misteriosamente começaram a brotar projetos editoriais, selos, editoras independentes e até mesmo as cartoneiras, inocentes que eram, agora correm velozes para alcançar seu espaço entre a matilha de lobos. Essa acusação, ou constatação, nos remete diretamente ao processo em curso das editoras independentes no Brasil.

Quem pesquisar na internet ou tiver o privilégio de conferir in loco como é dado o “fenômeno” das pequenas livrarias e editoras independentes em outros países, pode perceber que o que está acontecendo aqui no “país dos foliões” tem todas as características de um verdadeiro embuste! Lá fora, coletivos publicadores, pequenas editoras e autoras independentes produzem os livros, vendem de mão em mão em feiras, no próprio site, ou disponibilizam em pequenas livrarias de bairro, enviam para as amizades revenderem, compartilham com centros sociais ocupados e muito eventualmente em alguma distribuidora de nicho. “Lá fora”, pode ser a Argentina, Uruguai e Chile, não somente o velho continente. Uma distro/distribuidora de nicho se dá por temática de conteúdos, ou afinidades políticas entre as casas publicadoras e não por seu modelo de comercialização; logo, um livro independente não é um gênero da literatura, mas somente a forma com que a editora se organiza. E aqui estamos percebendo que as “Editoras Independentes” estão se transformando em mercado, um gênero, um objeto de fetiche da “indústria criativa”. Um orgulho para Pablo Capilantra e a “nova economia da cultura”.

Claro que grandes editoras compram pequenas editoras no exterior também, normal. Esse textão não é sobre isso, mas é sobre o modelo de negócios que está em curso em torno do objeto livro das editoras independentes no Brasil. Há atravessadores sedentos por serem a próxima megastore, a próxima Amazon, só que do livro independente brasileiro. É lógico que existem pessoas muito bem intencionadas que compram uma banca de jornal, um ônibus, um barco, uma bicicleta e transformam-na em livraria independente. Não são dessas pessoas que acreditam no livro independente como uma possibilidade para se fazer a cultura marginal e marginalizada chegar às mãos das pessoas que estamos falando. Estamos falando do inimigo real que quer abocanhar uma fatia dessa conquista das publicadoras autônomas e independentes. Deus Mercado está de olho e salivando por esses livros descolados.

Em breve você vai perceber que dentro das poucas megastores que a Amazon ainda não fechou haverá uma “quitandinha” com as editoras independentes, que os pequenos publicadores que nunca foram associados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) receberão como um espacinho para falar sobre suas produções em seus eventos e não precisar mais correr para fazerem sua “Bienal B”, sua Feira do Livro Autônomo e Independente na mesma data e em outros locais das grandes Feiras do Livro promovidas por instituições e governos. Aos bocados, eles pretendem assimilar as pequenas editoras como frutos de sua própria obra, como parte de sua benevolência, com sua autorização/bênção e até mesmo investindo algum dinheirinho nisso, pois afinal, se existem pessoas para comprar livros independentes, esse pode ser um bom negócio. Ao invés da mídia anunciar o acontecimento de uma contra-bienal do livro reividicando o papel das independentes, a Bienal vai apresentar sua bondade à mídia, ao conceder um “espacinho” em seus stands para as editoras independentes. Você em algum momento vai perceber a participação de um selo editoral de uma grande editora em pequenos eventos de editoras independentes. Então poderá perceber que as concessões são vias de mão dupla (canibal e vivípara) na assimilação do mercado. Se não agirmos, teremos cada vez mais livros bonitos, acabamentos especiais, recortes laser, furinhos, sobre capas, estojos, luvas, latas e menos popularização ou acesso ao livro impresso.

Já existem distribuidoras de editoras independentes recheadas de “agitadores culturais” que estão mais interessadas no objeto livro e como ele se apresenta para seus clientes de luxo, do que com as relações de contingência que fizeram emergir tais publicações. Este é um assunto muito sério, pois raramente as grandes editoras em suas distribuidoras dão descontos acima de 30% para lançamentos, o faturamento é realizado em 30, 60 e 90 dias e o frete é por conta do livreiro. Já o modelo sugerido por algumas dessas “novas” distribuidoras exige 50% do preço de capa dos títulos das editoras independentes (lançamentos inclusive), consignação (ou seja, o acerto é realizado quando e somente quando é realizada a venda ou no mês posterior) e a casa publicadora ainda precisa arcar com os custos de frete para o magnífico distribuidor. Caramba! Aí está realmente um grande modelo de negócio às custas dos esforços das independentes. Vejo o sorriso do SEBRAE neste horizonte!

Essa é uma estratégia de mercado para tornar o objeto livro distante do PDF, para que as pessoas tenham desejo de possuir a obra por seus aspectos físicos e sua aparência. Com tanta gourmetização, o preço dos livros independentes pode chegar à estratosfera. Uma implicação tautológica em direção a lucros muito rentáveis. Uma vez que o conteúdo é igual ao do PDF, ao pesquisar bem e com um pouco de sorte, a pessoa mais desatenta poderá encontrar título igual ou semelhante disponível para baixar na rede. E isso tem significado contínuos prejuízos ao Deus Mercado quando aplicado às grandes editoras. Mas quem terá o PDF das independentes?

NÃO SE CORROMPER PRA NÓIS JÁ É VITÓRIA!

Cada uma de nós na Editora Monstro dos Mares, temos em nossos princípios uma definição inequívoca e ampla sobre as possibilidades do livro de baixo custo nas mãos de compas. Para que as pessoas em contato com nossos livros, para que as ideias impressas nas páginas possam representar a potência de um fuzil. O livro é o fuzil de quem pensa! E ele deve estar na mão de todas as pessoas que estão no enfrentamento diário contra a Hidra de Lerna do grande capital.

O livro não deve ser um objeto de elites, de vanguardas intelectuais, de movimentos exclusivos, nem fruto de uma plataforma específica. O livro carrega em si todo o espectro de possibilidades e experiências de que algo que foi realmente feito para o propósito de estar nas mãos das pessoas, em toda parte. Como afirma Aragorn, no editorial da revista AJODA #59, Primavera/Verão de 2009.

Não se corromper pra nóis já é vitória! Assumimos aqui o compromisso de colocar tinta no papel, cortar, grampear, colar, montar o livro e oferecer títulos de baixo e baixíssimo custo para todas as pessoas. Estendemos este convite às nossas amizades, que tragam esse objetivo em seus princípios para suas editoras, que as autoras e autores exijam a possibilidade de popularizar o acesso ao livro e também, obviamente, que as pessoas rejeitem a gourmetização não apenas dos livros! Baixe o PDF, imprima, distribua!

Entendemos que esse tema causa divergência entre as pessoas que buscam objetivamente viver somente da produção de sua pequena editora, mas nossa experiência fazendo livros, estando nas ruas, na internet e de mão em mão, apresenta a condição de possibilidade para seguir realizando essa tarefa como um princípio, sem depender de intermediários ou grandes redes. Você pode não concordar com este posicionamento, mas este é um princípio muito caro para nossos objetivos e se mais pessoas compartilharem dessas práticas poderemos enfrentar a máquina com mais vigor.

Resista / Recuse
Livros e Anarquia
Editora Monstro dos Mares
Maio de 2018
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Este artigo é dedicado à memória de Aaron Swartz

Quando conhecemos o cotidiano da atividade acadêmica no Brasil é latente as condições de precariedade de pesquisadoras e pesquisadores. Em via de regra, não há bibliotecas especializadas, não há federalização de acervos, não há títulos impressos acessíveis. Salvo as raras exceções, ou a pessoa paga caro pelo livro no Brasil, compra o original no exterior ou “cavuca” a internet atrás do arquivo digital, preferencialmente sem pagar por isso. É praticamente impossível passar pela academia sem a obrigação de baixar conteúdos em repositórios online considerados “ilegais”.

Por isso é importante a memória da luta de Aaron Swartz, que agiu contra os altos custos para acessar conteúdos acadêmicos. O jovem ativista foi levado ao suicídio depois de intermináveis acusações, processos e judicializações. A própria internet surgiu como ferramenta de compartilhamento e universalização do conhecimento, mas se observa que mais e mais barreiras são erguidas em todas as direções. Não podemos permitir que essa jornada prossiga, compartilhe!

[bate-papo] Como foi o lançamento do livro “Violência, Democracia e Black Blocs” em Cachoeira do Sul

Na noite deste sábado, 08 de Fevereiro de 2014, a Editora Artesanal Monstro dos Mares serviu um chá gelado e colocou a banquinha na garagem para receber as pessoas de Cachoeira do Sul para o lançamento do livro “Violência, Democracia e Black Blocs“, do Sociólogo Nildo Avelino.

Durante o evento, a Rádio Caruncho FM Livre tocou vários sons que foram do samba ao black metal, passando por marchinhas de carnaval e o anarcofunk. Como as conversas estavam animadas decidiu-se ligar os microfones para fazer as ideias ganharem novos espectros, inclusive o sonoro.

Confira as imagens e áudio com o bate-papo. Existem alguns chiados, plics e placs no som, mas acredite que foram tratados na medida do possível.

Faça o download do áudio para ouvir onde quiser.

Monstro dos Mares no 2º Faça Você Mesmx – Zine Festival

A Monstro dos Mares participou do 2º Faça você mesmx – Zine Festival e voltamos cheios da energia libertária que rolou por lá!! Levamos o “Cultura de Segurança” e uma reimpressão do #00 do Leviatã de Papel. As trocas foram muito generosas!! O espaço de dádiva estava repleto de zines excelentes, sempre repostos conforme o pessoal ia pegando, a programação estava muito boa, com zineiros tarimbados dividindo suas experiências!

Zines são a literatura cinzenta do underground. Nesse caso o adjetivo “cinzenta” define bem a forma como são produzidos e circulam os zines, do lado de fora dos mercados editoriais, da publicidade e da imprensa, de forma subterrânea, público geralmente pouco amplo e local. Mas, se a caminhada dos zines tem esse aspecto “cinzento”, também tem outro, cheio de cores: o dos laços de comunidade que unem os zineiros.

Participar de eventos de zine é sempre compartilhar ideias, caminhos, lutas, erros e acertos, posicionamentos e esperanças. Seja nos zines políticos radicais, seja nos mais introspectivos e pessoais, essa troca é sempre rica e generosa.

Quadrinhos, poesia, arte, denúncia, utilidade comunitária, mitologias pessoais… Nesse canal alternativo, transita um tipo de informação que não se acha por aí. Nas páginas xerocadas com gravuras, desenhos colagens e textos reside um universo não mencionado em outros lugares, uma vasta paisagem, habitada pelas vontades, medos, crenças, estéticas e poéticas mais viscerais e legítimas da humanidade.

Um festival de zines é uma zona autônoma. É um veículo de uma ética, a ética da destruição do mundo e da reconstrução de outro, onde a liberdade e a criatividade sejam a única lei!

Veja como foi: Oficina de zines em Cachoeira do Sul

No dia 18 de Janeiro, atendendo ao convite do Movimento Feminista de Cachoeira do Sul, a Editora Artesanal Monstro dos Mares, com o apoio da Rádio Caruncho FM Livre, realizou uma oficina de zines. Na ocasião foram apresentados os conceitos básicos do que é fanzine, um pouco de sua história, exibição do documentário “Fanzineiros do Século Passado“, roda de bate-papo, oficina, exposição, vendas e logicamente a oficina de como fazer zines.

I used to say that I was dumb I couldn’t do the things he could
But listen here you boy I don’t need nothing from you
Don’t buy a zine that says to you that you have to wear make up
Don’t buy a zine that says to you that you have to lose some weight
They think that life’s a surrender and so am I.
And I think it’s time to make a choice do something good in your life.
I need no boys I can use my own mind. D need nothing from you. didn’t learn anything today don’t wanna go to school. I can learn with the news I can learn reading a book. don’t buy a zine that says to you
“What’s wrong about playing with boys”.
Don’t buy a zine that says to you “the world is made of love and joy”
♬ Dominatrix – No Make Up Tips

O evento que iniciou as 17h, se foi até próximo das 22h, quando vencidos pelo cansaço, foram recolhidos os equipamentos. A exibição do documentário e a roda de conversas foram bastante significativas para as pessoas compreenderem os processos da fanzinagem com instrumento de publicação alternativa, marginal e pedagógica de baixíssimo custo. A autonomia proporcionada pelos zines também ficou bastante evidente com a exibição do documentário, mas ficou ainda mais evidente ao apresentar a sua utilização em sala de aula.

A Feira Livre Municipal de Cachoeira do Sul mostrou-se mais uma vez ser um equipamento cultural amplo e diversificado, que merece maior atenção e utilização por parte de grupos, coletivos e movimentos. Uma vez que o espaço fornece em suas instalações a luz, água, energia elétrica e amplo espaço de convivência.

Estamos sempre dispostos em partilhar conhecimentos e contribuir no empoderamento de mulheres em qualquer atividade social e humana.

Racha Macho!

Fanzineiros do Século Passado – Capítulo 3 (full) from Márcio Sno on Vimeo.

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