Numerologia de Abril de 2020 🪔

Todos os dias, a pandemia do Novo Coronavírus nos atravessa com uma inundação de números assustadores. O número, entretanto, esconde em si o empobrecimento da linguagem no advento da cultura simbólica. Como falar sobre a vida de milhares de pessoas, seus nomes, ideais, sonhos e desejos? Em sua representação abstrata, o número não revela a dor de perder uma amizade, um parente, um vizinho ou uma pessoa conhecida. Por vezes, observar o número nos faz notar o que não está sendo dito: a abstração numérica esfrega em nossas caras a subnotificação de casos, dos óbitos, da irresponsabilidade e da omissão. Nenhuma vida será em vão.

Na numerologia de Abril de 2020, buscamos entender melhor nossas emoções e aprender a lidar com a ansiedade, o medo e as dúvidas. Não são dias fáceis e estendemos nossa solidariedade a todas as pessoas que estão empenhadas em encontrar formas de lidar com a pandemia. Agradecemos por todas as mensagens de carinho, pelo suporte financeiro ao Fundo de Emergência Coronavírus e pelo apoio emocional.

Numerologia do mês de Abril de 2020

  • Impressões de Abril de 2020: 8.692
  • Livros impressos: 71
  • Livros distribuição gratuita: 13
  • Zines impressos: 65
  • Zines distribuição gratuita: 37
  • Kw gerados e consumidos com energia solar: 0.2Kw

Numerologia: Hotsite com informações sobre nossos números mensais/anuais 🔮
https://monstrodosmares.com.br/numerologia


Imagem: Lâmpadas de diya de barro tradicionais iluminadas com flores para a celebração do festival de diwali.

[Evento] Filosofia e Eco-Anarquia em Tempos de Pandemia (LIVE), Casa de Vidro, Goiânia, dia 8 de Maio, 19h.

O eco-anarquismo ou anarquia verde é uma filosofia política anarquista com ênfase na questão ambiental. Como outras correntes anarquistas, o eco-anarquismo parte de uma crítica socialista e libertária ao capitalismo e toda forma de autoritarismo. Seu diferencial é abordar a questão ecológica como questão central ao invés de secundária, compreendendo os problemas ecológicos como inseparáveis das questões sociais e por isso igualmente urgentes.

No dia 08 de Maio, sexta-feira, a partir das 19h, A Casa de Vidro (www.acasadevidro.com), em parceria com a Editora Monstro dos Mares (https://monstrodosmares.com.br/) e o Grupo de Estudos em Complexidade, promovem o webdebate “Filosofia e Eco-Anarquia em Tempos de Pandemia” com Janos Biro Marques Leite, Pedro Tabio, Renato Costa e Eduardo Carli de Moraes. Assista ao vivo pelo Canal do Youtube d’A Casa de Vidro: https://youtu.be/yo-jeN2aPtE.

Introdução

Combinando a crítica anarquista ao Estado e ao Capital com uma perspectiva ecocêntrica vinda do veganismo, do primitivismo, da crítica à sociedade industrial ou da ecologia profunda, a filosofia eco-anarquista tem se mostrado uma fonte valiosa de reflexões e provocações para o contínuo desenvolvimento das teorias e práticas anarquistas, desafiando os paradigmas das escolas de pensamento mais tradicionais.

São consideradas como ligadas ao eco-anarquismo as seguintes tendências: o anarco-naturismo (inspirado por Thoreau, Tolstoi e Élisée Reclus), a ecologia social (que não se limita ao movimento iniciado por Bookchin), o anarcoprimitivismo (representado por John Zerzan e os autores da revista Green Anarchy) e o veganarquismo (movimento anarquista e vegano).

O anarcoprimitivismo e o veganarquismo se destacam em tempos de pandemia pela crítica que já faziam há muito tempo à sociedade de massas e à domesticação de animais como fatores da produção de pandemias e novas doenças. (Janos Biro)

Participe! Interaja!

Evento no Facebook:
https://www.facebook.com/events/466994764069513/

Apoio Mútuo: boas-vindas

Este texto poderia dar boas-vindas a uma geração que nos próximos meses terá a oportunidade de vivenciar um conjunto de experiências chamadas de Apoio Mútuo. Seria ótimo estender os braços e receber as pessoas para esse novo momento. Porém, este não é cenário. Não é uma festa, mas a maior emergência humanitária do século 21. Haverá um mundo antes e depois do Novo Coronavírus.

O Apoio Mútuo já existe no cotidiano e no horizonte de muitas pessoas, grupos e formas de encontro social, bem antes de tentarmos classificar os comportamentos genuinamente humanos como algo de sua própria ontologia. Compartilhar os recursos que temos, dividir com quem atravessa necessidades muito semelhantes às nossas é o que nos constitui seres humanos. Mesmo que nem sempre sejamos uma humanidade tão humana assim.

Nos chamam seres humanos
Um tipo bem estranho de bicho
Herói de circo mexicano
Animais reprodutores de lixo
Nos chamam seres humanos
Mas isso nem sempre somos

Seres estranhos“, Os The Darma Lóvers, 2004.

Quem vai pagar a conta?

Sabemos que a emergência global do novo coronavírus, um verdadeiro apocalipse sanitário e social, está diretamente relacionada à falta de humanidade de “gestores” do mundo. São esses homens de negócios que, de dentro de seus espaços herméticos, tomam decisões sobre as vidas das singularidades desse tão controverso geoide. Para manter as economias funcionando, milhares de vidas se tornarão iguais a qualquer outro número que possa ser calculado por eles. Qual o preço do ar puro? Da água limpa, da comida sem agrotóxicos, do direito à moradia, do acesso à saúde… E quem pode pagar por tudo isso?

Aqueles economistas, nem tão Chicago Boys assim, estão fazendo as contas de quanto pode ser gasto para parecer que estão interessados em salvar vidas. Pois, afinal de contas, já está evidente que o trabalho deles é contar os corpos e calcular quanto cada cadáver custará para a economia. Uma bagatela em torno de 3%.

Entretanto, muitas pessoas seguem dando as costas aos “gestores do mundo, economistas, políticos, investidores da bolsa. São pessoas que seguem colaborando para suprir as necessidades mais básicas de pessoas que sofrem com as opressões de esquemas políticos e econômicos, sejam colegas de trabalho, vizinhança, indígenas, quilombolas, população de rua, LGBTQIA+, população negra e periférica, ou mesmo alguém que nem conhecem, como você e eu.


Apoio Mútuo em todas as direções

Em quase todos os lugares, as pessoas estão se articulando para fazer com as próprias mãos, sem esperar pela atuação de representantes ou intermediários, não apenas nas favelas ou nos grandes centros urbanos. A solidariedade e o apoio mútuo fortalecem os laços entre quem mais precisa e aquelas pessoas que mesmo diante da dificuldade podem se somar. Água, abrigo, alimento, afeto, atenção, cuidado. São inúmeras as possibilidades.

Algumas pessoas que conhecemos decidiram desenvolver um canal, um meio de comunicação, um espaço para compartilhar ferramentas e ampliar as redes de solidariedade, apoiando ações que conectam demandas ao fortalecimento de pessoas, grupos, coletivos e organizações que têm em comum princípios de inspirações anárquicas e anarquistas.

Conheça: apoiomutuo.com.br


Nosso projeto prossegue: agradecimentos Rede de Apoio Abril de 2020

O Brasil se transformou. A emergência global da Covid-19 atingiu a saúde e a segurança de todas as pessoas. São tempos de cuidados e solidariedade com individualidades, comunidades e projetos próximos. Também é um tempo de dúvidas sobre a manutenção da vida e das atividades de nossa editora. Tivemos que tomar algumas medidas importantes, como abrir o chamado para um Fundo de Emergência, decidimos em reunião do conselho editorial suspender ações dos lançamentos programados para os próximos meses e economizar na reposição de insumos.

Uma editora existe para distribuir ideias significativas a seu tempo e entendemos que nossa atividade de fazer livros e zines não pode parar. Observamos uma compreensível e significativa queda nos pedidos em nossa loja virtual. Naturalmente, surgiram muitas dúvidas sobre como vamos atravessar esse período, questão comum entre a maioria das pessoas que conhecemos. Mesmo com tudo isso, percebemos que nossas amizades da Rede de Apoio no Catarse Assinaturas e no Picpay Assinaturas seguem confiando e acreditando no que fazemos pela diversidade de ideias e epistemologias.

Agradecemos aos apoios do mês de Abril de 2020:

  • Lucas Piteco;
  • Leonardo Feltrin Foletto;
  • Camila Silva;
  • Fyb C;
  • R.;
  • Viviane Kelly Silva;
  • Fernando Silva e Silva;
  • Caio;
  • Mauricio Marin Eidelman;
  • Willian Aust;
  • Geanny Paula Thiesen;
  • Guapo;
  • Jadson Stevan Souza da Silva;
  • Anna Karina;
  • Andrei Cerentini;
  • Vinícius;
  • Rodolfo Maia;
  • Eduardo Salazar Miranda da Conceição Mattos;
  • Lorenzo Basso Benevenutti;
  • Mayumi Horibe;
  • Daniela de Souza Pritsch;
  • Contribuições anônimas.

Ei pirata! 🏴‍☠️
Faça parte da Rede de Apoio da editora fazendo uma contribuição mensal:
Catarse assinaturas ou no PicPay assinaturas

Financiamento coletivo em 50%, quase lá!

Enfim o financiamento coletivo do novo livro da Monstro dos Mares chegou em 50% e, com a sua ajuda, vamos chegar lá! Ou seja, o livro “O índio no cinema brasileiro e o espelho recente“, de nosso amigo Juliano Gonçalves da Silva, tem tudo para acontecer. No momento em que muitas pessoas estão preocupadas com o que vai acontecer nas próximas semanas, surpreendentemente chegamos na metade de nossa meta de financiamento.

Conforme a resenha do livro publicada pela Dra Claudia Mayer, certamente esse título vai contribuir para importante reflexão sobre o impacto cultural das representações ficcionais sobre a existência real dos povos indígenas, ao discutir como o cinema ficcional produz, reproduz e contraria os estereótipos constituídos acerca dos indígenas que permeiam o imaginário da cultura brasileira. Inegavelmente, a pesquisa do Juliano vem a favorecer o interesse de pesquisadoras acadêmicas, de pessoas que se interessam pelo cinema nacional e latino-americano e apoiadoras da causa indígena. Além disso, este livro vem fortalecer ferramentas para criação de acervos de videotecas, cineclubes e salas de exibição comunitárias e populares. Assim, o projeto ultrapassa o alcance individual de cada livro e busca atingir a sociedade como um todo.

Financiamento coletivo

Como resultado desse financiamento coletivo, pretendemos imprimir cerca de 200 exemplares do livro durante o ano de 2020. O financiamento coletivo também tem o propósito de distribuir gratuitamente parte considerável dessa tiragem de livros artesanais para bibliotecas comunitárias, coletivos, movimentos sociais, pesquisadoras acadêmicas e independentes. Os livros são feitos artesanalmente, em casa, utilizando uma impressora doméstica, equipamentos mecânicos muito simples como uma guilhotina e grampeador.

Para que o livro chegue em mais e mais mãos, pedimos sua gentil contribuição no financiamento coletivo no Catarse. Você pode contribuir com qualquer valor a partir de 10 reais e receber recompensas pelo seu apoio.

Apoie o financiamento coletivo do livro “O índio no cinema brasileiro e o espelho recente” de Juliano Gonçalves da Silva no Catarse -> http://catarse.me/oindionocinemabrasileiro

“Pandemia constitui um reflexo cabal da miséria do capitalismo” — Entrevista com Carlos Taibo

Nosso compa Raphael Sanz, jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania, entrevistou o professor, autor e pensador Carlos Taibo. Seu livro “Colapso: capitalismo terminal, transição ecossocial e ecofascismo” tem levantado questões significativas sobre o nosso tempo e o que está por vir. Nossos agradecimentos ao Raphael por compartilhar a entrevista conosco, valeu mano!


“Pandemia constitui um reflexo cabal da miséria do capitalismo”

A pandemia do Coronavírus se expande por todo o planeta e seus efeitos já são sentidos e temidos. Enquanto vemos o provável colapso dos sistemas de saúde em nível mundial somados a problemas ambientais e sociais preexistentes, os discursos políticos e midiáticos oficiais recusam qualquer debate relativo a um eventual colapso do sistema que venhamos a testemunhar – mas a possibilidade existe. Sobre esse contexto entrevistamos Carlos Taibo, professor de Ciência Política da Universidade Autônoma de Madrid, autor de diversos livros sobre o tema, entre eles Colapso: capitalismo terminal, transição ecossocial e ecofascismo, lançado no Brasil pela Editora UFPR no ano passado.

“Salta à vista que o capitalismo pretenda não dar um passo atrás. A morte de muitos seres humanos, sobretudo idosos, é vista como um problema menor em comparação com a manutenção da lógica do trabalho assalariado, da mais-valia e da mercadoria. Por trás desponta, como sempre, a subordinação dos governos, dos Estados, aos interesses de poderosas corporações econômico-financeiras que operam nos bastidores. E se faz evidente que a crise tem uma manifesta condição de classe”, analisa.

Taibo pesquisa as possíveis causas e consequências de um próximo colapso das sociedades capitalistas. Entre as causas ressalta questões como mudanças climáticas e crise de matriz energética em nível global, mas não descarta o papel que epidemias e pandemias podem desempenhar em um processo de desagregação social e econômica. Avalia, ao contrário de outros especialistas, que a atual situação de pandemia tem mais a ver com as consequências, do que com as causas, das crises – no plural – que atualmente estão instaladas em nossas sociedades.

“Na origem, a pandemia é, certamente, uma consequência das regras que impõem, em toda ordem, um capitalismo enlouquecido e descontrolado. Constitui, se assim podemos dizer, um reflexo cabal da miséria desse capitalismo”.

A entrevista completa pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Como encara a emergência da pandemia de covid-19 em todo o mundo, especialmente na Espanha, um dos países mais afetados até o momento ao lado de Itália, China, Irã e Índia?

Carlos Taibo: Como um sinal inquietante de que falamos de um período crítico para a manifestação de um colapso geral. E aqueles que o identificam com a etapa 2020-2050 não estavam, desgraçadamente, equivocados. Isto não significa, necessariamente, é claro, que o sistema não possa experimentar alguma recuperação. Significa que teremos diante dos nossos olhos, em todas as áreas, sinais de que esse sistema não funciona e urge introduzir mudanças radicais.

Correio da Cidadania: Qual teu pensamento a respeito da dicotomia presente em boa parte dos países ocidentais, incluindo os da América Latina, que apresenta um embate entre as medidas de isolamento social recomendadas pelos trabalhadores da saúde, e a ideia de que ‘a economia não pode parar’?

Carlos Taibo: Salta à vista que o capitalismo pretenda não dar um passo atrás. A morte de muitos seres humanos, sobretudo idosos, é vista como um problema menor em comparação com a manutenção da lógica do trabalho assalariado, da mais-valia e da mercadoria. Por trás desponta, como sempre, a subordinação dos governos, dos Estados, aos interesses de poderosas corporações econômico-financeiras que operam nos bastidores. E se faz evidente que a crise tem uma manifesta condição de classe. Não afeta da mesma maneira as elites e a quem têm de acudir, dia após dia, ao trabalho – da mesma forma que exames e tratamentos não estão ao igual alcance de todos.

Correio da Cidadania: Como isso se relaciona com a necessidade de deixar nossas sociedades menos complexas, ideia que você coloca em seu livro Colapso?

Carlos Taibo: A discussão tem a ver com a relação entre complexidade e independência. Não notamos que quanto mais complexas são nossas sociedades, mais dependentes somos. E, como resultado, somos menos capazes de resolver, ‘de baixo e daqui’, por nós mesmos, de forma autogerida, os nossos problemas. Isto colocou nas mãos do capital, e de suas diferentes estruturas de poder, capacidades de controle e de submissão das que antes carecia.

Correio da Cidadania: Podemos dizer que a pandemia tem um caráter de consequência, e não de causa, das crises no capitalismo?

Carlos Taibo: Na origem, a pandemia é, certamente, uma consequência das regras impostas, em toda ordem, por um capitalismo enlouquecido e descontrolado. Constitui, se assim podemos dizer, um reflexo cabal da miséria desse capitalismo. É certo que, a partir daí, se abrem duas interpretações.

A primeira sublinha que a pandemia se transformará, infelizmente, em uma ferramenta decisiva para permitir que o capital retome, em condições ainda mais vantajosas que as de há pouco, sua condição de proeminência. A segunda entende, ao contrário, que desnudará as disfunções de um capitalismo aberrante, curtoprazista e sem projeto de futuro. Sinto-me mais cômodo com a segunda interpretação do que com a primeira.

Correio da Cidadania: É possível que essas crises se transformem em colapso geral do capitalismo? Em que medidas podemos começar a falar em colapso – uma vez que tanto meios de comunicação como autoridades fogem do assunto – e como podemos caracterizar este colapso?

Carlos Taibo: No meu livro ‘Colapso’, do qual há uma versão publicada no Brasil, em Curitiba, defino o colapso da seguinte maneira: ‘Um processo, ou um momento, do qual se derivam várias consequências delicadas: mudanças substanciais, e irreversíveis, em muitas relações, profundas alterações no que se refere à satisfação das necessidades básicas, reduções significativas no tamanho da população humana, uma perda geral de complexidade em todos os âmbitos – acompanhada de uma crescente fragmentação e de um retrocesso dos fluxos centralizadores -, o desaparecimento das instituições previamente existentes e, por fim, a quebra das ideologias legitimadoras e de muitos dos mecanismos de comunicação da ordem anterior.

As causas principais do colapso que estudo no livro são duas: as mudanças climáticas, por um lado, e o esgotamento de todas as matérias primas energéticas, por outro. Mas assinalo que há outros fatores que, aparentemente secundários, podem aparecer como multiplicadores das tensões. E entre eles menciono, de maneira expressa, epidemias e pandemias. Creio que, por falta de um conhecimento maior, é razoável afirmar que talvez nos encontraremos diante de um cenário próprio do que chamarei de ‘antessala do colapso’. Resta determinar, enfim, se podemos falar de um colapso do capitalismo ou, mais além, de um colapso da civilização humana como um todo.

Correio da Cidadania: O que é o Ecofascismo? De alguma maneira autoridades e lideranças nacionais e globais poderiam se aproveitar da situação para implantar uma agenda própria de poder, próxima ao conceito de Ecofascismo?

Carlos Taibo: Estaríamos equivocados se concluíssemos que as ideias que defenderam os nazistas alemães oitenta anos atrás remetem a um momento histórico conjuntural e irrepetível: muitas dessas ideias parecem chamadas a reaparecer hoje, não defendidas por ultramarginais grupos de neonazis, senão postuladas por alguns dos principais centros de poder político e econômico, cada vez mais conscientes da escassez geral que se avizinha e cada vez mais firmemente decididos a preservar em umas poucas mãos esses recursos escassos, ao amparo de um projeto de darwinismo social militarizado, isto é, de ecofascismo. Este último entende que no planeta sobra gente, de tal maneira que se trataria, na versão mais suave, de marginalizar aqueles que sobram – isto já fazem – e, na mais dura, de exterminá-los diretamente.

Ainda seria excessivo concluir que as medidas de recorte estatista, hierarquizantes, repressivas e militarizadas que aplicam hoje tantos governos obedecem em sentido estrito a um projeto ecofascista. Parece que a experiência conseguinte, com a ratificação da servidão voluntária que abraçam muitas pessoas, está chamada a aportar dados muito sugestivos diante dos desdobramentos desse projeto.

Correio da Cidadania: Os colapsos dos sistemas de saúde, como vemos na Itália, poderiam ter influência neste processo, mesmo que de maneira indireta?

Carlos Taibo: Poderiam, sim, em virtude uma razão precisa: colocam graficamente diante dos olhos das pessoas as misérias da gestão neoliberal, da gestão capitalista, de uns serviços sociais destinados a reproduzir sem meio termo a força de trabalho. Nunca se sublinhará o suficiente, contudo, de que não basta fortalecer os serviços sociais: é preciso apostar, para nos liberarmos de tutelas externas, por sua autogestão e socialização plenas.

Correio da Cidadania: O que esperar do mundo após o fim do período mais crítico da pandemia e quais devem ser os principais desafios que nos serão impostos?

Carlos Taibo: Temos de estar muito atentos aos perfis da pós-pandemia, se é que chegará. Há poucos dias, e em outra entrevista, identifiquei aqueles que creio serem os nossos deveres. Por um lado, colocar no núcleo do debate a discussão sobre o capital, o trabalho assalariado, a mercadoria, a mais-valia, a alienação, a exploração, o espólio dos países do sul global, a sociedade patriarcal, as guerras imperiais, as crises ecológicas e o colapso. E, pelo outro lado, perfilar os movimentos anticapitalistas que, longe da lógica dos Estados, coloquem a autogestão e o apoio mútuo no núcleo de sua ação. Somamos ao acerto desses movimentos muitos dos elementos das sociedades pré-capitalistas. Já sei que fácil não é, e não será.

Raphael Sanz é jornalista e editor-adjunto do Correio da Cidadania.


Publicado em Correio da Cidadania.

Numerologia de Março de 2020🏺

A numerologia de Março carrega consigo a imagem de uma Ânfora Panatenaica, um objeto da arte grega antiga utilizado para guardar o óleo que era entregue como prêmio nas Panateias. A simetria das formas da ânfora nos apresenta mais uma das representações de perfeição do mundo grego. Diferente do assustador desequilíbrio do mundo que estamos presenciando.

No DataMonstro, o caderno onde fazemos os registros dos números de livros e zines que são produzidos mensalmente, passamos a fazer anotações sobre os acontecimentos do mês. Então, além da numerologia de março, temos o registro de algumas visitas e atividades em que estivemos presentes. Neste mês, recebemos a visita de uma acadêmica do curso de Jornalismo da UEPG que está preparando uma matéria sobre a Monstro dos Mares, a visita do professor, escritor, poeta e editor Marco Aurélio de Souza e estivemos presentes no lançamento dos primeiros títulos de 2020 da Olaria Cartoneira.

Alguns acontecimentos também afetaram dramaticamente a numerologia de março. Perdemos o disco rígido do THX1138, nosso computador de produção, e tivemos um reboot terrível em nosso website. Como se não fossem problemas suficientes, sobreveio também a emergência global da Covid-19. Sobre essas questões todas, publicamos um informe chamado “Reboot no site, HD queimado e Pandemia 🦠“. Com tudo isso, a manutenção e a continuidade de nosso projeto editorial ficaram profundamente comprometidas e decidimos criar um “Fundo de Emergência Corona Vírus (Covid-19)“, a fim de garantir recursos financeiros para que possamos continuar distribuindo materiais de inspiração anárquica aos diversos recantos do país. Esperamos que você esteja em casa e que esteja bem.

A impressora M2140 que chegou em Janeiro precisou da substituição da caixa de manutenção em 42.423 impressões. Infelizmente, no Brasil essa peça custa mais de 300 reais. Mas como havíamos feito a importação de um pequeno estoque desse item, deu tudo certo. Segue o vídeo que gravamos na primeira substituição da caixa de manutenção da M2170 (Impressora Incendiária).


Numerologia de Março de 2020

  • Impressões de Março de 2020: 5.244
  • Livros impressos: 156
  • Livros distribuição gratuita: 6
  • Zines impressos: 192
  • Zines distribuição gratuita: 33
  • Kw gerados e consumidos com energia solar: 0.4Kw
  • Total de Kw gerados e consumidos com energia solar em 2020: 5.8Kw
  • Total de impressões desde Janeiro de 2020: 43.325
  • Total de impressões desde Agosto de 2017: 380.759

Numerologia: Hotsite com informações sobre nossos números mensais/anuais 🔮
https://monstrodosmares.com.br/numerologia

Biblioteca Anarquista Lusófona

Biblioteca Anarquista Lusófona (logo)
www.bibliotecaanarquista.org

As chaves de uma biblioteca podem abrir novas ideias! O projeto da Biblioteca Anarquista Lusófona está no ar e precisa de sua participação e divulgação. A Biblioteca Anarquista Lusófona é um repositório de textos anarquistas e de interesse para anarquistas. Baseia-se no The Anarchist Library e tem a mesma estrutura do site em inglês.

No que se refere ao uso do termo “anarquismo” na biblioteca, aceita-se que esse é um termo bastante amplo. Mas amplo não significa infinito, e, basicamente, se reduz a um conjunto de ideias contra o Estado e o Capital. Todas as ideias anárquicas e anarquistas que estejam identificadas com essa definição são bem-vindas. Isso exclui imediatamente o chamado “anarco-capitalismo”, o “anarco-nacionalismo” e porcarias similares.

A Biblioteca Anarquista Lusófona foi traduzida e é mantida por um conjunto de pessoas de variados espectros e entendimentos do anarquismo. Toda pluralidade e diálogo comum entre nós é frutífero. Por isso, a biblioteca não é de uma pessoa, nem pertence ao grupo x ou y. Tampouco é vinculada a uma determinada corrente / organização. Qualquer pessoa pode inserir novos textos e fazer download de arquivos para leitura e impressão.

Inserir textos na biblioteca

Para contribuir inserindo textos no repositório da biblioteca, basta você saber a origem do texto, ou seja, de onde ele foi extraído: a fonte. A familiaridade com editores de textos também é bem-vinda. Se você souber um pouquinho de HTML ou Markdown, vai ajudar bastante.

Tempo necessário: 30 minutos

  1. Selecione um texto

    Com certeza você tem uma pastinha com muitos arquivos de textos anárquicos e anarquistas. Verifique a fonte do texto e pense como ele pode ser importante para outras pessoas;

  2. Evite a duplicação

    É bem importante verificar se o texto não está disponível na biblioteca. Confira a lista completa por ordem alfabética;

  3. Adicionar um novo texto

    Agora é a hora de adicionar um novo texto. Você pode utilizar o sinal de + na parte superior da página ou o link no rodapé. Lembre-se que é necessário estar registrado no site para prosseguir;

  4. Cadastrar as informações básicas

    Agora é a hora de cadastrar o título do texto, autor, data original de publicação, fonte (origem) do texto, palavras chave, outras informações e colar o texto. Avançar!

  5. Revisar o texto

    Lembre-se de revisar o texto. Utilizar um navegador moderno com um pacote de idiomas e corretor de texto atualizado é uma ótima pedida. Evite utilizar formatações importadas do Word. Para colar sem as formações você pode utilizar o comando (control + shift + v, ou command + shift + v, se utilizar sistema operacional Apple). Se possível, remova todas as marcações <br> ou </br>.

  6. Revise as notas de rodapé

    Para utilizar notas de rodapé, basta inserir em qualquer parte do texto o número da nota dentro de colchetes, por exemplo:

    Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Pellentesque consectetur, sem eget ultrices fermentum, turpis augue venenatis diam, in rhoncus lacus risus non sem[1].

    No final do texto, em uma nova linha, adicione a sentença “número da nota de rodapé entre colchetes espaço texto da nota”. Veja o exemplo:

    [1] Texto da nota de rodapé, 2020.

  7. Visualizar as modificações

    Enquanto você revisa o texto, é possível visualizar como ele está ficando. Esse processo ajuda muito para verificar se as modificações realizadas deram certo;

  8. Enviar

    Tudo certo? Agora, basta enviar! Voluntários e voluntárias da Biblioteca Anarquista Lusófona farão a revisão e publicação do material. Tenha um pouco de paciência, pois cedo ou tarde você vai receber recomendações de modificações/revisões ou informações sobre a publicação do texto.

  9. Obrigada!

    Só é possível manter o repositório on-line se as pessoas utilizarem a biblioteca. Use e divulgue.


Recursos avançados

Com a Biblioteca Anarquista Lusófona é possível:

  • Contribuir com revisões em textos;
  • Fazer o donwload do texto em diversos formatos de leitura (html, pdf, ePub, LaTex);
  • Baixar o arquivo pdf para leitura ou pronto para impressão de caderno (booklet);
  • Adicionar o texto em sua seleção pessoal e criar um livro com os textos selecionados (bookbuilder);
  • Selecionar somente um trecho do texto para formar uma coleção de citações;

Suporte da biblioteca

Algumas pessoas estão on-line em um pequeno grupo no Telegram (https://t.me/bibliotecaanarquistalusofona) neste exato momento para ajudar quem tem dúvidas sobre como utilizar a biblioteca. Se precisar de auxílio a qualquer momento, não hesite em participar do grupo. E, se puder, auxilie outras pessoas também.


A Editora Monstro dos Mares apoia a Biblioteca Anarquista Lusófona sem nenhum tipo de vínculo.

Correios e Corona: dicas, pedidos e prazos

Olá amizade! Primeiramente, esperamos que você esteja em casa e que esteja bem. As trabalhadoras e trabalhadores dos Correios não pararam suas atividades (ainda) e a categoria está fazendo o máximo para manter as entregas. Foi criada uma página no site dos Correios com informações sobre o Corona Vírus (Covid-19) e sobre os serviços de correspondência e encomendas.

Conforme os boletins aos clientes sobre o Covid-19, trabalhadores no chamado grupo de risco (incluindo gestantes, lactantes e aquelas pessoas com filhos em idade escolar) estão trabalhando de casa. As estações de trabalho, agências, centros de triagem e de distribuição estão operando com equipes reduzidas e os turnos de limpeza foram intensificados. Serviços de entregas expressas foram suspensos (Sedex 10, Sedex 12, Sedex Hoje e Telegramas) e um tempo adicional de 3 dias úteis para os serviços de PAC e SEDEX e de 5 dias para correspondências foi adicionado. Além disso, algumas precauções aos Carteiros foram reforçadas, como evitar contato físico na hora da entrega: com o celular, o profissional faz o registro da entrega sem a necessidade de assinar o recebimento de objetos, entre outras medidas preventivas dos Correios.

Remessas de correios

Seja como for, a Monstro dos Mares segue imprimindo e enviando materiais pelos Correios. Agendamos as coletas para terças e sextas-feiras. Portanto, na terça serão enviados os pedidos de livros e zines realizados entre sexta e segunda, e na sexta serão enviados os pedidos entre terça e quinta-feira. Assim, nosso amigo carteiro (abraço, Heveraldo!) não precisa vir coletar pacotes todos os dias e ficar ainda mais exposto. Agradecemos a gentileza de nossas amizades dos Correios em ofertar a coleta sem custos, valeu mesmo! Os valores dos fretes permanecem sem alterações.

Nossas dicas para o isolamento social

  • Fique em casa

    Se possível, fique em casa. Principalmente se você compartilhar a moradia com grupos de risco;

  • Ajude seu vizinho

    Muitos apertos surgirão para quem tem dificuldades motoras, pessoas com necessidades ou capacidades limitadas, situação de pobreza e vulnerabilidade social. Se puder, fortaleça com alimentos, fraldas, material de limpeza, itens de higiene pessoal, etc. Você sabe o que fazer: somar na solidariedade;

  • Evite inundações

    O excesso de notícias pode aumentar a ansiedade. Não há problema em parar de seguir alguém por um tempo, sair ou silenciar aquele grupo onde a galera só fala bobagem. Dê um tempo pra você;

  • Evite álcool e drogas

    Além de baixar suas defesas imunológicas, a brisa pode consumir recursos importantes para momentos difíceis. Seria bem ruim você sair de casa expondo seus co-habitantes apenas para fazer um corre;

  • Sua criatividade é bem-vinda

    Escreva um zine, afine seu violão, agilize aquela revisão bibliográfica da sua pesquisa, faça traduções para a Agência de Notícias Anarquistas, insira textos na Biblioteca Anarquista Lusófona, selecione o artigo que você escreveu e envie para Monstro dos Mares;

  • E aquela amizade com quem você não fala faz um tempão?

    Envie um e-mail carinhoso, mande um Scrap, combine uma ligação pelo app. Esse período em casa pode ser precioso para fortalecer vínculos;

  • Faça pão

    Você não precisa se preparar para uma guerra, mas será que você precisa fazer compras todos os dias? Aproveite o tempo em casa e faça pão, bolos e biscoitos. Hoje eu sou o padeiro, amanhã é você. Crianças são super bem-vindas nessa tarefa;

  • Cuide da segurança digital

    Nunca temos tempo para fazer um backup. Aproveite para verificar as rotinas de segurança dos dispositivos, introduza a Segurança de Pés Descalços nas referências de proteção da sua máquina, espertofone e do seu coletivo;

Agradecemos o apoio, mensagens carinhosas, palavras de incentivo e contribuições que estamos recebendo.

Rede de Apoio mais linda em Março

No mês de Março de 2020, nossa Rede de Apoio ficou diferente. É impossível deixar de notar que fazemos parte de um grande rizoma de ações de solidariedade. No momento em que o Brasil e o mundo são afetados pela pandemia do Novo Corona Vírus (Covid-19), cada pessoa tem a responsabilidade de cuidar de si, daquilo que chamamos de família, das amizades e das pessoas próximas. Todo dia vemos demonstrações de solidariedade com as pessoas que mais precisam de apoio, em gestos de diversos tamanhos. É hora de cada singularidade fazer um pouquinho mais por alguém: cada uma com suas necessidades, cada uma dentro de suas possibilidades.

Aqui na Monstro dos Mares temos muitas preocupações sobre a manutenção da vida e a continuidade de nossas atividades. Pensando nisso, abrimos um chamado para a constituição de um “Fundo de Emergência: Corona Vírus (Covid-19)“. Através dele estamos recebendo a generosidade de nossas amizades. Agradecemos imensamente, tanto pelo apoio financeiro, quanto pelas palavras de incentivo que recebemos.

Nas palavras de nossa editora geral:

Estamos muito emocionadas com o suporte que estamos recebendo de amigas e amigos. Quero lhes dizer muitas coisas, agradecer bastante, reforçar a solidariedade e o carinho que está chegando até nós.
Mas ainda não há palavras; por sorte temos essa canção, que não sai da minha cabeça nos últimos dias.
“Resistindo na boca da noite um gosto de sol”

Claudia Mayer

Esse sentimento de ajuda mútua e cooperação também é visível na Rede de Apoio da editora no Catarse em no recém-lançado sistema de assinaturas no PicPay. A todos os apoios, nosso muito obrigado! Sigamos.

Rede de Apoio de Março de 2020:

  • Guapo Magon
  • Leonardo Feltrin Foletto
  • Camila Silva
  • Viviane Kelly Silva
  • Marcio Gomes Paes Costa
  • Fernando Silva e Silva
  • Mauricio Marin Eidelman
  • Willian Aust
  • José Vandério Cirqueira
  • Lupi
  • Fyb C
  • Anna Karina
  • Caio
  • Andrei Cerentini
  • Jadson Stevan Souza da Silva
  • Lorenzo Basso Benevenutti
  • Geanny Paula Thiesen
  • Mayumi Horibe
  • Rodolfo Maia
  • Daniela de Souza Pritsch
  • Contribuições anônimas

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